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segunda-feira, abril 14, 2008

Finda o julgamento de 1 agressor de Gisberta...







Portugal: país europeu campeão de assassinatos violentos de transsexuais e da relutância em encará-lo, legislando ou educando. País campeão na ausência de culpados de crimes transfóbicos, na transfobia institucionalizada e no desrespeito pelo direito à Identidade de Género. Quanta mais violência será necessária para se admitir e proteger?

Ministério Público tinha pedido pena inferior à aplicada
Caso Gisberta: arguido condenado a oito meses de prisão efectiva por omissão de auxílio
Público on-line 14.04.2008 - 16h12 Ana Cristina Pereira, com Lusa

"Foi condenado a oito meses de prisão efectiva. Se quiser, pode cumpri-los em casa. O juiz-presidente lamentou que o jovem Vítor S., agora com 18 anos, tivesse assistido impávido ao "definhar de um ser humano" motivado por uma "agressão selvática e desumana". A sua culpa é, no entender do magistrado, "intensa" e "merecedora de censura ética elevadíssima".
O Tribunal de São João Novo, Porto, condenava assim, esta tarde, um dos jovens envolvidos na morte de Gisberta – transexual, imigrante, sem-abrigo, seropositiva, toxicodependente, em Fevereiro de 2006 agredida com paus, pedras, pontapés por um grupo de rapazes e atirada a um poço. O Ministério Público não pedira tanto. A procuradora Maria José Fernandes queria que o jovem fosse condenado a acompanhar o trabalho de uma instituição de apoio aos sem-abrigo, todas as sexta-feiras, durante meio ano, em alternativa ao cumprimento de meio ano de prisão. Contudo, à pena aplicada - o máximo permitido para aquele crime praticado por jovens - são descontados dois meses e cinco dias de prisão preventiva que Vítor S. já cumpriu.
O tribunal "não acreditou nos menores, mas o certo é que, "face à míngua de prova" "não foi possível apurar a actuação concreta do Vítor" no que toca a eventuais agressões a Gisberta, lamentou. Já quanto à omissão de auxílio, a "atitude covarde" ficou provada, segundo o magistrado. (...)."
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sexta-feira, março 28, 2008

Gisberta: MP pede condenação... leve - um crime sem culpados

Depois de condenação de 13 adolescentes
Caso Gisberta: Ministério Público pede que jovem arguido seja castigado apoiando sem-abrigo

27.03.2008 - 18h19 Lusa
"O Ministério Público (MP) pediu hoje que um jovem envolvido no caso do transexual Gisberto Júnior (Gisberta) seja condenado a acompanhar o trabalho de uma instituição de apoio aos sem-abrigo, todas as sexta-feiras, durante meio ano.
Nas alegações finais do caso, a procuradora Maria José Fernandes admitiu não terem ficado provados os três crimes de ofensa à integridade física qualificada, de que Vítor S., 18 anos, vinha acusado. Já em relação à omissão de auxílio, de também estava acusado, a procuradora considerou o crime não só provado, como "absolutamente imoral" e explicado "de forma absolutamente irresponsável" (por medo).
Ao ignorar as necessidades de ajuda do transexual em sofrimento, o arguido mostrou "total descompaixão relativamente ao sofrimento humano", acrescentou a procuradora, sublinhando que o auxílio "podia ter evitado uma morte". O crime de omissão de auxílio é punível com multa ou prisão até um ano, mas Maria José Fernandes entende que a pena a aplicar nestas circunstâncias deve ser de meio ano de prisão, suspensa sob condição de o arguido seguir o trabalho de apoio a pessoas sem-abrigo.
(...) A leitura do acórdão foi agendada para 14 de Abril, às 14h00."

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segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Trans no Parlamento

No segundo aniversário do assassinato de Gisberta, o Bloco de Esquerda promoveu uma audição na Assembleia da República sobre Transsexualidade. Presentes estiveram activistas das Panteras, Médicos Pela Escolha, Opus Gay e activistas trans independentes. O deputado Sosé Soeiro iniciou a reunião dando a palavra aos e às activistas trans presentes na sala e que referiram diversos casos de discriminação.
A dificuldade e morosidade para mudança de nome nos documentos de identificação e no registo, diagnósticos médicos demorados muito além do aceitável e a falta de uma lei que regule as questões de identidade de género foram, talvez, as questões principais referidas.
A intervenção das Panteras assim como a de uma activista trans francesa que comentou a situação dos trans em França e na Bélgica, despoletou a questão da patologização da transsexualidade e do diagnóstico psiquiátrico como elemento fundamental para as pessoas terem acesso ao processo de mudança de sexo. Debate acesso até pela presença de dois médicos da equipa do Hospital Santa Maria (nesta audição a convite da Opus) que defenderam a necessidade desse diagnóstico e a classificação de patologia para os e as trans. Por outro lado, algumas das activistas presentes, não aceitando a afirmação de que os trans são doentes mentais, reconhecem a necessidade deste diagnóstico médico até pela oportunidade de tratamento no serviço nacional de saúde que ele implica.

Como já sabemos, um debate urgente a ser travado e definidor para o futuro das pessoas transsexuais e trangéneros em Portugal. Para já, esta foi a primeira vez que trans entraram na Assembleia da República pela porta principal e de cara levantada. E não será a última!
O Bloco de Esquerda colocou na sua página web um vídeo com excertos de algumas das intervenções, que reproduzimos pelo interesse do seu conteúdo:

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sexta-feira, junho 22, 2007

Panteras Rosa premiadas em Barcelona




As Panteras Rosa foram premiadas com o Triângulo Rosa 2007, um prémio atribuído anualmente pelo Colectivo Gay de Barcelona, a personalidades e entidades destacadas na luta contra a lesbigaytransfobia,à semelhança do prémio Arco-Íris, atribuído anualmente por cá pela associação ILGA Portugal.

Desconhecemos o número total de votantes envolvid@s, mas sabemos que as Panteras Rosa mereceram mais de 800 votos.

A votação, que decorreu por mail, correio, fax, ou nas instalações do colectivo, determinou que o movimento Panteras Rosa em Portugal receberia o prémio por "pela bem sucedida campanha internacional de concentrações diante das embaixadas e consulados portugueses", em protesto contra o assassinato da transexual Gisberta Salce Júnior.

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quinta-feira, maio 10, 2007

Gisberta em Tela




Temos à venda um magnífico quadro a óleo, "Gisberta", executado por uma Pantera do Porto mais dada às artes, Vicente Andréu. O artista pintou a obra em memória de Gisberta Salce Júnior durante uma das intervenções recentes das Panteras sobre o 1º aniversário do crime que a vitimou.
O Vicente pintou este quadro há já algum tempo, como forma de intervenção pública sobre o caso, mas também para que revertesse em fundos para a actividade quotidiana das panteras.
Preço: 250 euros
Queira contactar-nos quem quiser adquiri-la -
panterasporto@gmail.com

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quarta-feira, abril 11, 2007

Gisberta: MP acusa jovem de 16 anos

JN de Hoje
MP acusa jovem de 16 anosno caso Gisberta

"Menores julgados no Tribunal de Família tentaram ilibar colega mais velho mas não conseguiram


O Ministério Público (MP) do Porto decidiu acusar formalmente o jovem mais velho do grupo de 14 rapazes envolvidos no caso da morte de Gisberta, o transsexual encontrado sem vida, a 22 de Fevereiro do ano passado, no fundo de um poço de um prédio inacabado na Avenida Fernão de Magalhães, no Porto. A situação relativa a este rapaz de 16 anos, considerado maior de idade em termos penais, era a única pendente, depois de o Tribunal de Família e Menores do Porto ter julgado e aplicado medidas tutelares educativas aos 13 restantes jovens implicados. De acordo com informações recolhidas pelo JN, a decisão do Departamento de Investigação e Acção Penal do MP do Porto aponta para crimes de ofensas à integridade física agravadas pelo resultado (morte) e omissão de auxílio.

O rapaz, que era um dos internados na Oficina de São José, no Porto, poderá requerer abertura de instrução, para tentar evitar ser submetido a julgamento. A advogada que defende o jovem recusou prestar qualquer declaração, invocando razões deontológicas. O desfecho do processo causa surpresa face àquilo que eram as previsões da investigação da PJ do Porto, baseada nos depoimentos dos restantes menores. É que os testemunhos, inclusive os prestados durante a fase jurisdicional (julgamento), no Tribunal de Menores, apontavam para o alheamento do elemento mais velho do grupo, de 16 anos, nas agressões infligidas ao transsexual, de nacionalidade brasileira.

O MP optou por tomar posição somente depois de decorrida a parte fulcral do processo relativamente aos 13 menores - à maioria dos quais foram aplicadas medidas de internamento em regime semiaberto. E não se convenceu quanto ao não envolvimento do membro mais velho do grupo, que chegou a estar em prisão preventiva desde 24 de Fevereiro até ao início de Maio do ano passado.
Agora, o caso foi qualificado como de ofensas à integridade física graves, a que acresce omissão de auxílio, já que o estado de agonia da vítima, decorrente das agressões, prolongou-se por vários dias. Até que um dia, com Gisberta inanimada, os membros do grupo pensaram que estava morta e quiseram ocultar o cadáver, atirando-o para o fundo de um poço no prédio. Afinal, o transsexual ainda estava vivo e morreu de afogamento.
As penas aplicadas aos 13 menores julgados no Tribunal de Família e Menores do Porto, em Julho passado, variaram entre os 11 e os 13 meses de internamento, em regime aberto e semiaberto. A dois deles, indiciados apenas por não terem auxiliado Gisberta quando era agredida, foi decidido acompanhamento educativo durante um ano.

Inquérito por maus-tratos
Três depoimentos efectuados durante o julgamento por funcionários e colaboradores da instituição onde estavam internados 11 dos 13 rapazes deram origem a uma certidão enviada para o Ministério Público. Em causa estavam suspeitas de maus-tratos, com eventuais responsabilidades dos dirigentes da Oficina de São José.
No final de Agosto do ano passado, o director-executivo da Oficina de São José suicidou-se. Elementos próximos de Germano Costa, advogado, dizem que andava agastado com os acontecimentos em redor da instituição.

O MP optou por tomar posição somente depois de decorrida a parte fulcral do processo relativamente aos 13 menores - à maioria dos quais foram aplicadas medidas de internamento em regime semiaberto. E não se convenceu quanto ao não envolvimento do membro mais velho do grupo, que chegou a estar em prisão preventiva desde 24 de Fevereiro até ao início de Maio do ano passado. Agora, o caso foi qualificado como de ofensas à integridade física graves, a que acresce omissão de auxílio, já que o estado de agonia da vítima, decorrente das agressões, prolongou-se por vários dias. Até que um dia, com Gisberta inanimada, os membros do grupo pensaram que estava morta e quiseram ocultar o cadáver, atirando-o para o fundo de um poço no prédio. Afinal, o transsexual ainda estava vivo e morreu de afogamento" (...)

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quarta-feira, fevereiro 21, 2007

GISBERTA - MORRER INVISÍVEL


Foto DN







As Panteras Rosa promoveram ontem na Rua de Santa Catarina, no Porto, uma intervenção de rua intitulada "GISBERTA: MORRER INVISÍVEL ", destinada a lembrar e sensibilizar a população para o crime que teve lugar há um ano e as discriminações e agressões a que está sujeita a população transsexual.

Tratou-se da primeira de uma série de iniciativas alusivas a este crime, para promover o reconhecimento dos direitos da população trans e a sua protecção e colocar o dedo na ferida no tema das discriminações e violência/desprotecção de menores em Portugal, que as Panteras Rosa irão desenvolver até 2 de Março.

Os próximos eventos, entre os quais o lançamento de uma petição dirigida à Câmara Municipal do Porto para criação de um memorial a Gisberta Salce Júnior naquela cidade, serão divulgados oportunamente.

A acção, na qual foi divulgado o comunicado que emitimos há dois dias (http://panterasrosa.blogspot.com/2007/02/um-ano-depois-tudo-na-mesma.html), teve excelente cobertura mediática, com menção na Visão, reportagens na SIC e na TVI, bem como grande destaque nos jornais Público e DN (http://dn.sapo.pt/2007/02/23/sociedade/associacoes_gay_querem_memorial_a_gi.html)

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UM ANO DEPOIS, TUDO NA MESMA.

Comunicado de imprensa PANTERAS ROSA

Um ano depois do assassinato da transsexual Gisberta
Tudo na mesma!


Faz amanhã um ano desde que foi encontrado o corpo de Gisberta, transsexual, toxicodependente, seropositiva, prostituta e imigrante brasileira, que sucumbiu a três dias de tortura e sevícias sexuais e posterior afogamento, ao ser lançada a um poço por um bando de rapazes no Porto. Um ano passado, fala-se de um crime que “chocou o País”. E não é verdade: um país chocado, é um País que reage e previne. E não foi assim.

O problema está em que o referido “choque” foi limitado à jovem idade dos autores deste crime (eles próprios vítimas de injustas políticas sociais e de desprotecção de menores), e não se estendeu à perda de uma vida, à exclusão social extrema em que esta vítima mortal estava encurralada, e sobre a qual, um ano depois, praticamente nenhuma intervenção teve lugar, e nada de concreto se alterou. O País pode, portanto, acertar os relógios e continuar a contar os dias até à próxima Gisberta, talvez menos mediática mas nem por isso menos certa. Aliás, o País queria esquecer e já esqueceu.

Um ano depois, temos uma sentença judicial ignóbil que responsabiliza os jovens em causa por agressão mas que os iliba do assassinato e da tortura, sustentando que a vítima morreu por culpa da água em que se afogou. Gisberta morreu assassinada mas ninguém a assassinou, tal como às restantes transsexuais que têm tido sorte semelhante e cujos casos não vêm a público. Por outras palavras, podem matar-se transsexuais, porque isso não tem em si consequência jurídica.

Um ano depois, a protecção legal de pessoas como Gisberta continua inexistente, e as condições de marginalização de grande parte da população transsexual continuam intocadas porque os decisores políticos e o Estado continuam a fugir às suas responsabilidades, tal como aliás no que toca também à população homossexual:

Num país campeão da violência sobre menores, o sistema de “guarda e protecção de menores” continua sem medidas de reforma para que seja mais do que um armazém de crianças e jovens, das quais metade entregues a instituições religiosas, sem contexto emocional ou educativo.

Continua ausente da discussão política o reconhecimento do direito à identidade de género e a protecção legal da população trans contra a discriminação e a violência, no sentido do que legislaram já a Espanha ou a Inglaterra.

Os/as transsexuais continuam sujeitos/as a um processo médico abusivo e mesmo, os transsexuais masculinos, à esterilização forçada, para poderem alterar os seus nomes no BI. Continuam impedidos/as de ver alterado o seu género noutros documentos de identificação, com prejuízo evidente das suas oportunidades de acesso ao emprego.

Nada se fez para limitar o impacto da exclusão social da maioria da população transsexual. A primeira violência de que esta é vítima, é institucional e legal.

Numa altura em que a política institucional volta a adiar o reconhecimento do direito ao casamento civil para os casais do mesmo sexo, lembremos que em Portugal ainda estamos na fase de debater medidas que poderiam significar a diferença entre a vida e a morte.

Quando alguma agenda política e mediática tende a resumir ao tema do “casamento” as reivindicações do movimento Lésbico, Gay, Bissexual e Transgénero (LGBT), o caso de Gisberta Salce Júnior aí está para nos lembrar e não deixar esquecer que em Portugal a homofobia e a transfobia continuam regra, que a verdadeira fractura social está na discriminação, e não no reconhecimento de direitos à população LGBT.

Sobretudo, que no combate a estas discriminações, temas como o do casamento civil são “parte” mas não “o todo”, porque está quase tudo por fazer naquilo que pode em concreto melhorar as vidas sujeitas a estas discriminações e violências.

Certo é que a transfobia, a homofobia, e a violência discriminatória começam e acabam por ser institucionais, e pouco se alterará nas mentalidades enquanto assim for, e enquanto os políticos continuarem a escudar-se na necessidade de “um grande debate nacional” para não fazerem o que está certo: prevenir (a violência e a discriminação), educar e legislar. O que não dizem os políticos que assim falam, é que eles próprios não estão abertos a esse debate:

A legislar contra a discriminação pela orientação sexual ou pela identidade de género, ainda mais desprotegida.

A assumir responsabilidade por políticas activas de Educação para a prevenção destas discriminações, à semelhança de outras.

A assumir a extinção de normas discriminatórias, como a que continua a excluir homossexuais na doação de sangue.

A alterar a legislação discriminatória e contrária ao princípio constitucional de não discriminação em função da orientação sexual, reconhecendo as novas expressões familiares e as famílias não-heterossexuais e os seus direitos: reconhecer os milhares de famílias de homossexuais com filhos e, em consquência, o acesso à adopção, alargar, sim, o acesso ao casamento civil, regulamentar o acesso à inseminação artificial para lá dos casos de fertilidade, regulamentar e fazer aplicar a Lei das Uniões de Facto.

O Estado continua a ser o primeiro violador da igualdade. Não só não a combate como promove a discriminação através da sua inacção e das suas leis.

“Tema fracturante”, realmente, só vemos um: a discriminação que nos expõe à desigualdade e à violência, sobre a qual ninguém em Portugal assume responsabilidades. Mas essa indiferença tem custos humanos e sociais, de que Gisberta é um lembrete incómodo. E prova trágica de que quem não assume as suas responsabilidades, é já responsável.

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quarta-feira, dezembro 20, 2006

SEM JUIZO

Lemos e relemos e custa a crer. Aos poucos a incredulidade cede o lugar à indignação e de repente lembramo-nos da justiça que julgou os assassinos de Gisberta e do juíz que em advertência referiu a "brincadeira que acabou mal". Vómito! O jornal do dia traz mais um exemplo. Desta vez em relatório a propósito da reforma do Código Penal, a Associação Sindical de Juízes escreve que não pode haver violência doméstica entre um casal do mesmo sexo. Pelo caminho da argumentação percebemos que nem sequer entre casais a viver em união de facto, não fossem os responsáveis de tão brilhante relatório admitirem o seu esquecimento destas situações. Assim para estes representantes sindicais da classe, a violência doméstica é exclusiva de casais hetero casados pelo registo. A porrada fora dos mandamentos dos juizes Pedro Albergaria e Mouraz Lopes não é considerada violenta nem doméstica. E já agora os maus tratos psicológicos também não pois para estas brilhantes cabeças só as nódoas negras é que provam a violência e só agressão fisica comprovada é que é violenta.
De muito pouco servem os estudos e as organizações sociais que trabalham o tema, de nada serve a estes juizes uma constituição que no seu artigo 13º previne a discriminação por razão da orientação sexual, inútil a legislação de uniões de facto aprovada certamente já depois de sairem do Centro de Estudos Judiciários. A lei são eles porque são eles que a aplicam. O bom senso e a lógica, as evidências que nos entram pelos olhos dentro não se aplicam ao alto critério dos magistrados. Na sua lógica simples, como não há casamento não há casal e como não há casal não há convivência doméstica ou família, logo não pode haver violência considerada doméstica. Quem nos salva destes juizes?

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terça-feira, agosto 01, 2006

Quanto vale uma vida Transexual em Portugal?

COMUNICADO DE IMPRENSA 01-08-2006

Quanto vale uma vida Transexual em Portugal?
Homicídio de Gisberta desculpabilizado pelo sistema judicial como uma “brincadeira que correu mal”

Em Fevereiro deste ano, 2006, Gisberta Salce Júnior foi brutalmente e selvaticamente espancada e violada repetidamente durante dois dias por um grupo de adolescentes, parte deles pertencentes a uma instituição gerida pela Igreja Católica, parcialmente subsidiada pelo Estado Português: as Oficinas de S. José.
Sendo Gisberta uma sem-abrigo, estes factos consumaram-se num prédio em construção no Porto, onde ela pernoitava. No final dos dois dias, ainda viva, escapou de ser queimada para, em seu lugar, ser arremessada para um profundo buraco parcialmente cheio de água, onde veio a falecer afogada.

Os adolescentes, 13 com idades entre os 12 e os 16 anos, foram descobertos porque um deles mencionou o sucedido. Foram constituídos arguidos. Desde então, assistimos a um ver-se-te-avias de tentativas de encobrimento e de desculpabilização.

Da quase nula e pouco transparente informação que saiu a público durante o julgamento, retiramos discursos tão incoerentes e absurdos como “São miúdos, aquilo foi uma brincadeira que correu mal”. Declarações como esta, de “fonte judicial”, levaram à reacção da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados, que emitiu um comunicado público em que critica a condução do julgamento.

Uma bricadeira pressupõe, logicamente, que não haveria intenção de matar. O que não é passível de ser verdade já que foi noticiada, durante as audiências, a descoberta de que antes de ser atirada ao buraco, Gisberta pediu que a levassem ao hospital. Não restam, assim, dúvidas de que os seus carrascos sabiam que estava viva e que iriam por termo à sua vida com aquele acto. Depois de porem de parte a ideia de queimá-la, devido ao cheiro e ao fumo, escolheram o fosso, na esperança de que o corpo se afundasse.

É já de si muito grave e irresponsável que fontes judiciais qualifiquem publicamente factos desta natureza como “brincadeira”, para mais perante o desfecho de uma morte violenta. Mas sobretudo não se vislumbra como se pode manter a tese da inexistência da intenção homicídio quando até a inicialmente alegada “ocultação de cadáver, julgando que estava morta”, cai por terra.

É igualmente caricato que, após gorada a tese da morte por culpa das enfermidades de Gisberta (seropositiva, com hepatite e tuberculose e toxicodependente), se tente convencer a opinião pública de que a vítima não faleceu devido a dois dias de violência extrema, mas por afogamento. É um facto que Gisberta morreu afogada, mas, após tal violência repetida e continuada, não é de todo credível que qualquer pessoa tivesse ainda forças para se aguentar a nadar durante o tempo decorrido entre a queda no fosso e a descoberta do corpo. Mais, o simples facto de não ter fugido ou procurado auxílio entre o 1º e o 2º de violência revela o estado de extrema debilidade física em que a vítima foi abandonada após as agressões.

A causa do afogamento de Gisberta está directamente relacionada com as agressões sofridas por esta, e é parte inegável das mesmas. Sustentar, como fez o Ministério Público, que foi a água, e não os jovens, quem matou Gisberta, é tão incongruente como afirmar-se que enfiar a cabeça de alguém dentro de água até à morte, não se trata de um homicídio mas sim de afogamento.

Só podemos repudiar e condenar energicamente a forma como o Ministério Público lidou com este processo, bem como o restante sistema judicial e político por o terem permitido e aceite. Para quem tenha seguido este caso com um mínimo de atenção, a sentença era a que se esperava: uma desculpabilização quase total, pela qual Portugal deverá vir a ser confrontado internacionalmente. Dizem os advogados de defesa que só a qualificação do crime foi alterada, e não as medidas a aplicar. Ora, tais medidas são claramente uma questão de segunda linha quando se está a negar a verdadeira natureza do crime que teve lugar.

Ignora-se se houve pressões da Igreja católica ou de outros quadrantes da sociedade, mas é suposto a Justiça estar abrigada de toda e qualquer pressão. É esta a ideia com que se fica? Não!
Compreende-se como o Ministério Público desconsidera um homicídio motivado por ódio transfóbico a ponto de o transformar num mero caso de agressão? Não!
Como se pode esperar que o sistema judicial português seja credível com exemplos destes? Será isto justiça? Ou será que a justiça só funciona para alguns? Existem afinal cidadãos de segunda, filhos e filhas de um Deus menor.

Terá o caso decorrido desta maneira por se tratar de uma mulher transexual?
Terá decorrido assim por se tratar de uma sem-abrigo? Uma toxicodependente, com tuberculose e hepatite e seropositiva? Não deverão todas estas pessoas usufruir dos mesmos direitos, da mesma protecção social, legal e judicial que o conjunto dos cidadãos?

É por isso que reiteramos a urgência da inclusão do direito à Identidade de Género na Constituição e na restante legislação contra os crimes motivados por discriminação, como acontece já hoje com a “orientação sexual”, bem como um conjunto de leis semelhantes à “Gender Recognition Act” britânica, e medidas concretas e assumidas pelo Estado para a educação contra os preconceitos e as discriminações.

Para que não hajam mais ‘Gisbertas’
Para que não se duvide mais do Sistema Judicial Português
Pela igualdade, contra um grave desrespeito pelos Direitos Humanos em Portugal, caucionado pela Justiça


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Lara Crespo, activista transexual
Eduarda Santos, activista transexual
Stephan Jacob, activista trans
Jó Bernardo

*Panteras Rosa – Frente de Combate à Homofobia
*rede ex aequo - associação de jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e simpatizantes
*PortugalGay.PT
*ªt. associação para o estudo e defesa do direito à identidade de género

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SENTENÇA GISBERTA: TRIBUNAL NEGA HOMICÍDIO

nem reconhecimento de que houve um homicídio, nem das sevícias sexuais quer tiveram lugar, nada... é terrível, mas nenhuma surpresa... Ora vejam:

Caso Gisberta: 13 menores condenados entre 11 e 13 meses de internamento
Porto, 01 Ago (Lusa) - O Tribunal de Família e Menores do Porto (TFMP) condenou hoje os 13 menores envolvidos nos maus-tratos ao transsexual Gisberta, encontrado morto num fosso de um prédio, a penas entre os 11 e os 13 meses de internamento em centros educativos.
O tribunal dividiu a condenação em três grupos de menores, com penas diferenciadas.
Um primeiro grupo, de seis, foi condenado pela prática de crimes de ofensas à integridade física qualificada na forma consumada e crimes de profanação de cadáver na forma tentada, tendo-lhes sido aplicada a medida tutelar de internamento em centro educativo em regime semi- aberto, pelo período de 13 meses.
O segundo grupo, de cinco menores, foi condenado pelo crime de ofensa de integridade física na forma consumada, com medida tutelar de internamento em centro educativo pelo prazo de 11 meses.
O terceiro grupo, constituído por dois menores, foi condenado pelo Tribunal pelo crime de omissão de auxílio, com medida tutelar de acompanhamento educativo pelo prazo de 12 meses.
Nos dois primeiros casos, o tempo já passado pelas crianças em centros educativos não será descontado no período da pena.
A leitura da sentença começou pelas 14:30 e foi aguardada por alguns amigos e familiares dos menores, que tiveram de permanecer à porta do tribunal onde decorreu a sessão, devido a limitações de espaço.
Minutos antes, pelas 14:00, os 13 menores chegaram ao Tribunal transportados em três carrinhas e escoltados por duas viaturas da PSP.
Embora a leitura da sentença tenha sido pública, ao contrário do que aconteceu nas sessões para produção de prova, só podiam entrar na sala de audiências parentes mais próximos dos menores e um grupo de três jornalistas, precisamente devido à dimensão da sala.
Além dos 13 menores que hoje foram condenados, o caso envolve um rapaz de 16 anos, que chegou a estar preso preventivamente e que aguarda agora o desenvolvimento de um processo criminal autónomo.
Este jovem terá pedido aos demais que parassem as agressões que alegadamente foram infligidas a Gisberta, ao longo de vários dias, antes de ser atirada ao fosso com água.
O transsexual brasileiro Gisberto Salce Júnior, 46 anos - conhecido por Gisberta ou Gis - morreu na sequência de várias agressões e o seu corpo foi encontrado submerso no fosso de um prédio inacabado, no Campo 24 de Agosto, Porto, depois de um dos jovens ter contado o sucedido a um professor.
Um perito médico-legal concluiu que o transsexual morreu vítima de afogamento e que as lesões que lhe foram alegadamente infligidas pelos menores não eram fatais.
JGJ/ICO.
Lusa/Fim

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terça-feira, julho 25, 2006

A vergonha que se esperava

Segundo o Ministério Público, quando se atira alguém a um poço, é a água que mata... como quando se dispara: quem matou foi a bala... como falar de homícídio?

Diário de Notícias

MP recua na acusação de homicídio no 'caso Gisberta'

"O Ministério Público (MP) deixou cair a acusação de homicídio na forma tentada, com dolo eventual, no julgamento da morte da transexual Gisberta, que decorre no Tribunal de Família e Menores do Porto. Nas alegações finais, a procuradora alterou a qualificação do crime imputado aos 13 menores para ofensas corporais qualificadas mas manteve as medidas tutelares pedidas, entre 10 a 15 meses de internamento em regime semiaberto. A leitura da sentença, que será pública, ficou agendada para 1 de Agosto.

A falta de provas que sustentasse a acusação de homicídio levou os procuradores a alterarem a qualificação dos crimes. O relatório da autópsia indicou que a morte foi provocada por afogamento (o corpo foi lançado pelos menores para um fosso com água), não tendo sido as agressões a originar o óbito de Gisberta Júnior. Além de considerar que aos menores apenas podem ser imputados crimes de ofensas corporais, qualificadas por serem muito graves, o MP aceitou também a redução do número de rapazes indiciados por ocultação de cadáver, na forma tentada. Dos seis acusados inicialmente, apenas três são agora considerados susceptíveis de serem punidos. (...)

As medidas tutelares a aplicar aos menores passam pelo internamento em instituições. O MP manteve o pedido de 10 a 15 meses para onze dos miúdos. Para dois deles é apenas proposto acompanhamento psicológico e assiduidade escolar. (...) Há ainda outro acusado, maior de 16, cujo inquérito decorre no DIAP do Porto."

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sexta-feira, julho 14, 2006

Julgamento caso Gisberta - Notícias de 13 Junho

domingo, junho 18, 2006

GISBERTA NO PARLAMENTO EUROPEU

Reproduzimos abaixo um 'post' da eurodeputada Ana Gomes, pirateado do blog Causa Nossa

GISBERTA
"O Parlamento Europeu aprovou ontem uma resolução de condenação e apelo à luta contra a impunidade dos crimes de ódio racista ou homofóbico. O segundo parágrafo enumera uma série de casos recentemente ocorridos em vários países europeus:

"2. Condena firmemente todos os ataques de natureza racista e motivados pelo ódio e insta todas as autoridades nacionais a fazerem tudo o que possam para punir os responsáveis e para combater a impunidade no que diz respeito a esses ataques; manifesta a sua solidariedade para com todas as vítimas de tais ataques e para com as suas famílias, nomeadamente:
- o assassínio premeditado de uma mulher negra de nacionalidade maliana e de uma criança belga da qual era ama, perpetrado em Antuérpia, em 12 de Maio do presente ano, por um jovem belga simpatizante da extrema-direita, o qual havia, momentos antes, ferido gravemente uma mulher de origem turca na tentativa de a matar;
- o homicídio de um jovem de 16 anos em Janeiro de 2006 e de outro de 17 anos em Abril de 2006, em Bruxelas, e exprime a sua indignação com a cobertura destes crimes efectuada por alguns órgãos de comunicação social, que, em certas ocasiões, levaram à criminalização injustificada de comunidades inteiras por parte da opinião pública;
- o rapto, tortura e assassínio de Ilan Halimi, no passado mês de Fevereiro, em França, por um "gang" de 22 pessoas de diferentes origens e expressa a sua particular preocupação face à dimensão anti-semita deste crime;
- o homicídio de Chaïb Zehaf, perpetrado em Março passado, em França, devido à sua origem étnica;
- o brutal ataque de que foi alvo um cidadão alemão de origem etíope, Kevin K., na aldeia de Poemmelte na Saxónia-Anhalt, em 9 de Janeiro de 2006, atendendo sobretudo à sua motivação racista;
- a tortura e o homicídio hediondos de Gisberta, um transsexual que vivia na cidade portuguesa do Porto, cometidos em Fevereiro de 2006 por um grupo de adolescentes e pré-adolescentes menores;
- o ataque perpetrado contra Michael Schudrich, Grande rabino da Polónia, que teve lugar em Varsóvia, bem como as declarações de um destacado membro da Liga das Famílias Polacas incitando à violência contra a comunidade LGBT no contexto da marcha em prol da tolerância e da igualdade;

- a agressão de que foi vítima em 8 de Abril de 2006 Fernando Ujiguilete, português de origem guineense, na localidade de Castellar del Vallès, Espanha; devido a esta agressão, de índole racista, Fernando Ujiguilete esteve internado vários dias num hospital;
- o aumento das agressões e das palavras de ordem e cânticos de índole racista que ocorrem nos estádios de futebol por parte de simpatizantes da ideologia neonazi".

Nessa resolução eu introduzi a referência ao assassinato de Gisberta. Porque não desvalorizo as implicações de grave doença social que tal crime, ainda por cima cometido por crianças, demonstra. Porque não concordo com quem sustenta que Portugal esteja numa categoria à parte, pretensamente menos grave, entre os países europeus onde se assiste a uma escalada de manifestações e organizações racistas, xenófobas e homofóbicas. Porque não estou no PE para fingir que em Portugal não há problemas, como a reaccionária cultura machista que alimenta perversões homofóbicas, a ponto de induzir menores a matar com requintes de malvadez uma pessoa doente e muito fragilizada. Porque estou no PE para o utilizar. Para reforçar ou forçar a mão de autoridades que devem fazer justiça e fomentar a cultura da tolerância, respeito pela diversidade e respeito pelos direitos humanos. Porque, já lá dizia Burke no sec. XVIII, "Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada" ("All that is necessary for the triumph of evil is that good men do nothing." Edmund Burke, político e filósofo irlandês, 1729 - 1797)". [Publicado por Ana Gomes]

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domingo, junho 11, 2006

8 de Junho - manifestação em Paris

Vídeo da acção em Paris 8 Junho, frente ao consulado português

Para ver, fazer o download
http://transencolere.free.fr/actu/actu.htm
ou
http://transencolere.free.fr/GISBERTA_8juin06/gisberta_consulat_portugais juin06.wmv
as coisas que os jornais portugueses conseguem ignorar... parece que é todos os dias que os consulados e embaixadas portuguesas na Europa têm todos manifs à porta...

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quinta-feira, maio 25, 2006

GISBERTA Apelo à Acção Internacional 8 de Junho

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Calendário de EVENTOS NACIONAIS:

8 de Junho:
Sessão Pública no Porto: Sessão Pública de Debate e exibição do documentário “Gisberta – Liberdade”, às 21h30 Academia Contemporânea do Espectáculo, Praceta Coronel Pacheco (Panteras Rosa, @t. ILGA-Portugal, Rede Ex-Aequo, não te prives, Clube Safo, PortugalGay.PT)

Lisboa: Conferência de Imprensa: apresentação do manifesto dos movimentos europeus contra sobre o assassinato de Gisberta e a transfobia em Portugal. Frente à escadaria da Assembleia da República, 12h. Levaremos máscaras com o rosto de Gisberta, para que o poder político não possa esquecê-lo. (@t,. Panteras Rosa, rede rede ex aequo, não te prives, Clube Safo, Opus Gay)

Coimbra: Sessão Pública de Debate e exibição do documentário “Gisberta – Liberdade”. 21h30 na cave da Galeria Bar Santa Clara.

Faro: Instituto Português da Juventude de Faro, Rua da PSP (ao pé do Jardim Alameda e da Biblioteca Municipal) às 20h30 (rede ex aequo)

10 de Junho:
Braga:
Estaleiro Cultural Velha-a-Branca - Largo Senhora-a-Branca, nº23, 16h (rede ex aequo)

Porto: Local: Espaço T - Rua do Sol, n. 14 Porto (Escola EB1 da Sé), às 16h (rede ex aequo)

ALGUMAS ACÇÕES INTERNACIONAIS CONFIRMADAS:
8 Junho:
Itália: manifestações frente aos consulados portugueses em várias cidades

Milão: 10.00 em frente ao Consulado Português

Itália: Turim - acção frente ao consulado português

Vienna (Austria) - manifestação frente à Embaixada Portuguesa

Berlin, Munich (Alemanha) - ídem

Manifestações em Barcelona, Madrid e no País Basco frente aos consulados e embaixada

Paris - concentração frente ao consulado português

Brasil - Rio Grande do Sul - Porto Alegre - consulado de Portugal em Porto Alegre - entrega de uma moção de repúdio ao governo português.

09/06
São Paulo - sessão solene do orgulho GLBT na assembléia legislativa do Estado de São Paulo com uma homenagem póstuma a GISBERTA, com presença da família.

Itália - Roma 10.00 - frente à Embaixada Portuguesa

Manifesto Internacional
Assassinato de transsexual em Portugal. Encobrimento de um crime de ódio.

Fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior, transsexual brasileira a viver em extrema exclusão social na cidade portuguesa do Porto, foi torturada e violada com paus no ânus durante um período de três dias para depois ser atirada para um poço e deixada morrer numa obra abandonada.

Um grupo de 12 a 14 rapazes adolescentes, entre os 12 e os 16 anos, confessaram o crime. Os jovens viviam numa “instituição de Protecção de Menores” dirigida pela Igreja Católica.

O chamado sistema de “protecção de menores” empurra metade dos “menores protegidos” para instituições da Igreja católica, mistura crianças necessitadas de protecção contra situações de violência doméstica com jovens institucionalizados por razões penais e assenta num sistema de “armazéns de crianças” sobrelotados que não garantem educação ou sequer protecção a estas crianças e jovens, mas que pelo contrário garantem a exclusão social Uma mudança neste sistema precisa de um real investimento do Estado para promover um sistema de efectiva protecção, cuidado e educação assim como formação específica para os juízes dos Tribunais de Menores, que é hoje inexistente.

Gisberta tinha uma saúde precária. Tinha HIV Positivo e tuberculose. Vivia nas ruas e prostituía-se para ganhar algum dinheiro.

Este crime teve cobertura enganosa da imprensa portuguesa. O poder judicial minimizou-o e o político ignorou-o. O engano abrangeu a tentativa de desumanizar Gisberta. A imprensa recusou a publicação da sua fotografia, fazendo eco da hierarquia da Igreja insinuando que ela teria assediado os rapazes, omitindo o facto de que ela era transsexual e ignorando as tomadas de posição públicas das organizações LGBT.

Em Portugal, tudo o que é possível está a ser feito para esquecer este horrível crime – sem consequências, acções judiciais ou mudanças nas leis.

A exclusão social e degradação de Gisberta Salce Júnior expõem claramente a marginalização de transsexuais em Portugal. Este caso é uma clara demonstração de um alto nível de agressão e de atitudes transfóbicas na sociedade portuguesa. Mas qualquer qualquer debate público sobre o caso é abafado em Portugal antes mesmo de começar - e não poderá recomeçar sem pressão internacional.

Por isso, a European Trangender Network em cooperação com organizações portuguesas envia este apelo para uma acção internacional a 8 de Junho em frente às embaixadas e consulados portugueses com o objectivo de expressar apoio aos esforços dos activistas portugueses e pressionar o governo português a assumir as suas responsabilidades face a este crime de ódio.

Queremos:

*reestruturação profunda do sistema de “protecção de menores” em Portugal (*)

*uma política social de assistência a grupos marginalizados – incluindo imigrantes, pessoas com HIV, sem-abrigo, utilizadores de drogas e trabalhadores do sexo – em vez de uma política de exclusão.

*a inclusão explícita da “identidade de género” em legislação anti-discriminatória e protecção na legislação penal face a crimes de ódio motivados pela transfobia.

*iniciativas para promover o conhecimento da situação das pessoas transgénero e o trabalho contra atitudes transfóbicas e homofóbicas, na escola, no local de trabalho, nas forças policias e na população em geral.

*total reconhecimento de género, incluindo o direito de escolher livremente os primeiros nomes e uma lei de “reconhecimento de género” semelhante à “Gender Recognition Act of 2004” britânica.

*tratamento médico de transsexuais menos condescendente, incluindo acesso livre a tratamentos médicos e à livre escolha dos profissionais de saúde, apoio financeiro para cirurgias e tratamentos no estrangeiro, promoção da formação médica correcta para esta área no sistema de saúde português.

Um documentário – “Gisberta Liberdade” – foi realizado pela TGEUnet e activistas portugueses. Este filme em DVD estará disponível a partir de 26 de Maio e poderá ser pedido para os contactos indicados em baixo para suportar a discussão internacional e a mobilização para 8 de Junho.

CAMPANHA INTERNACIONAL:
http://tgeu.net * tgeurope@tgeu.net

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quarta-feira, maio 17, 2006

GISBERTA: 8 DE JUNHO, DIA DE PROTESTO INTERNACIONAL

COMUNICADO DE IMPRENSA
17 DE MAIO - DIA MUNDIAL CONTRA A HOMOFOBIA
PANTERAS ROSA EXIGEM RESPEITO PELA VIDA HUMANA


No Dia Mundial Contra a Homofobia (IDAHO), que hoje se assinala em todo o mundo, o movimento Panteras Rosa - Frente de Combate à Homofobia - condena publicamente o Estado Português e os dirigentes nacionais pela sua incapacidade em assegurar o respeito pelos mais básicos direitos da pessoa humana, e desafiam o Governo e os grupos parlamentares na Assembleia da República a oficializar e traduzir em medidas a presente data como Dia Nacional Contra a Homofobia e a Transfobia , em memória de Gisberta Salce Júnior, a sem-abrigo, transexual, imigrante, seropositiva e prostituta que foi torturada, violada e morta em Fevereiro por um bando de rapazes no Porto.

Pelos factores de exclusão que acumulava, Gisberta é um símbolo da incapacidade do Estado - e do sistema económico e político - em garantir políticas sociais e pelos Direitos Humanos que combatam a exclusão e a degradação humanas, ao invés de promovê-las. Pelo contrário, cada vez mais direitos sociais, laborais e humanos estão a ser destruídos, e cada vez mais cidadãos/ãs são hoje empurrados/as para a exclusão extrema.

Mas nunca um crime motivado pelo(s) preconceito(s) foi tão desconsiderado e deturpado em Portugal, a ponto de a justiça acabar por qualificar os acontecimentos como de mera agressão. Porque a vítima era transexual? Porque o crime voltou pela milésima vez a demonstrar o sistema de (des)protecção de menores que existe em Portugal e a cuja profunda reforma o Estado resiste a todo o custo? Deste crime horrível nada parece resultar: nem conclusões, nem preocupação consequente, nem reflexão legislativa ou social. Tudo se esquece, tudo passou.

Para que assim não seja, no Dia Mundial Contra a Homofobia, as Panteras Rosa anunciam um dia internacional de luta contra a transfobia em Portugal.


8 de Junho será uma data de convocação de protestos junto dos consulados portugueses em variados países - e também para acção em Portugal - para exprimir a indignação pública contra o crime que vitimou Gisberta e que foi claramente deficitária nacionalmente. E também para dirigir ao governo português uma série de reivindicações contidas num apelo internacional que amanhã será divulgado junto da imprensa e dos movimentos sociais nacionais, ao mesmo tempo que a sua divulgação internacional.

Nos próximos dias e semanas, estará disponível nos websites
http://tgeu.net * tgeurope@tgeu.net, e também aqui no blog das Panteras Rosa, toda a informação sobre os países e os moldes em que decorrerá este protesto internacional, com particular incidência na Europa.

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sexta-feira, maio 05, 2006

Palhaçada total no sistema penal!

Já ontem o revelava o Diário de Notícias e hoje reafirma o jornal Público: a farsa judicial à volta do assassinato de Gisberta vai mais longe do que as nossas piores suspeitas receavam:

"A autópsia também não deixa dúvidas e indica que a vítima foi lançada ainda com vida para o poço. A causa da morte não foram, assim, as agressões, mas o afogamento. Segundo o PÚBLICO apurou, o caso relativamente ao jovem de 16 anos deverá ser arquivado. Isto porque nem se deverão aplicar as suspeitas de ter sido cometido o crime de omissão de auxílio, já que a causa da morte não foram as agressões."
"Também na altura tudo indicava que tivesse sido essa a causa da morte (os jovens garantiam que haviam atirado o corpo de Gisberta já sem vida ao poço), o que depois veio a ser contrariado pelo relatório médico. O relatório final do Ministério Público deverá ser conhecido em breve, podendo então o rapaz ser completamente ilibado."

Portanto, a culpa foi de Gisberta que morreu afogada, como se os rapazes não tivessem sequer confessado que a empurraram para o poço!
Uma coisa é pensarmos que o essencial não é encarcerar estes jovens, e que só medidas de fundo podem combater os crimes de ódio. Outra coisa é perceber que estamos perante uma situação de manipulação absoluta e descrédito total do sistema jurídico. Nada de novo, bem sei, mas há limites para o aceitável, há limites para a vergonha na cara, e há limites para a quase-infantilidade dos argumentos que estão a ser usados pelo sistema neste caso!
O sistema penal parece querer convencer-nos de que houve agressão mas foi obra do Espírito Santo, que houve sevícias sexuais mas cometidas pelo mesmo sujeito, que houve assassinato sem ter havido.
As Panteras Rosa não permitirão que continue sem resposta pública esta total PA-LHA-ÇA-DA!

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quarta-feira, abril 12, 2006

Gisberta - Pedido de Imagens

Car@s, temos recebido informação sobre vários canais europeus de televisão que estão a preparar documentários sobre a morte da Gisberta. O mais recente vem de um canal de televisão queer austríaco. É por isso que insistimos com um pedido já feito.

As panteras agradecem a tod@s @s que têm, ou conhecem quem tenha, gravações vídeo (nem que seja gravadas num telemóvel) quer da cobertura mediática nas televisões portuguesas, quer das vigílias que tiveram lugar em Lisboa e no Porto (material editado ou não), que entrem em contacto connosco nas duas próximas semanas para que essas imagens possam ser utilizadas nos documentários.

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quarta-feira, abril 05, 2006

A Culpa é da morta *


Comunicado de Imprensa

Após aturado inquérito, a diocese do Porto concluiu que as Oficinas de S. José não terão qualquer responsabilidade no espancamento e assassinato de Gisberta. Para estes responsáveis eclesiásticos o facto da instituição que dirigem não possuir meios adequados para receber menores "com comportamentos delinquentes", justifica a ausência da sua responsabilidade particular no crime do Porto.

O inquérito conduzido pelo Conselho de Administração das Oficinas de S. José foi benevolente com…. as Oficinas de S. José. A diocese da Igreja Católica do Porto, entidade responsável pela guarda de tantas crianças em risco no país, vem esclarecer publicamente que afinal não tem qualquer responsabilidade quando alguma coisa corre mal. Não tem condições para as ter, mas tem estas crianças em situação difícil, a seu cargo. Não lhes pode prestar os cuidados e o acompanhamento devido, mas é à sua guarda que elas se transformam em tudo aquilo que serão no futuro.

O assassinato da Gisberta vem revelar em primeiro lugar a imensa debilidade e hipocrisia da política do Estado para com as crianças e jovens institucionalizados. A falta de meios, de condições pedagógicas e do mínimo investimento para ultrapassar esta situação tornou-se um dos problemas mais gritantes do país. Mas é preciso dizer que a Igreja é o principal cúmplice do Estado, parceira nesta irresponsabilidade criminosa, companheira de percurso e principal beneficiária dos poucos recursos atribuídos. Não podemos por isso aceitar que diocese do Porto venha dizer que não tem qualquer responsabilidade neste caso. Se reconhece que não tem condições para acompanhar os jovens das Oficinas de S. José, então feche a instituição. E quantas mais instituições sem condições mínimas estão a funcionar como "depósito" de crianças em risco?


Na Avenida Gonçalo Cristóvão, no Porto, as companheiras de Gisberta estão a ser alvo de um aumento das provocações transfóbicas e de situações de ameaça e agressão. Quantas Gisbertas terão que ser assassinadas para que a Igreja e os responsáveis governamentais entendam que a única garantia de integração social é aquela que gasta tempo, dinheiro e esforço com os jovens em risco e simultaneamente combate as discriminações?

Vivemos numa sociedade em que há crianças que são espancadas pela própria família, abandonadas pelos seus, objectos de comércio sexual, traficadas e escravizadas, abandonadas por todos e sem esperança de um dia poderem crescer sem medo. Para muitas a violência é a única linguagem que conhecem, o desprezo pela vida e dignidades humanas os valores que reproduzem e o ódio a pessoas como a Gisberta até os aproxima das atitudes da maioria, nomeadamente do discurso reproduzido pela Igreja Católica a propósito da diversidade sexual.
Suprema ironia, terá este crime hediondo sido para os seus jovens autores, uma forma de integração e normalização social?

*Não esquecemos, não podemos esquecer a tentativa de insinuação pública do responsável pelas Oficinas de S. José, Padre Lino Maia de que Gisberta perseguiria uma das crianças e o crime constituiria uma auto-defesa.

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