COMUNICADO DISTRIBUÍDO HOJE
Casal de alunas perseguido em Escola Secundária
A ESCOLA COMO POLÍCIA DE COSTUMES?
A Escola Secundária António Sérgio, em Vila Nova de Gaia, tem um regulamento particular: os alunos e alunas estão proibidos de ter demonstrações de afecto entre si: nem beijos nem mãos dadas, nem namoros. Qual a motivação para a bizarria? O namoro entre duas alunas que a escola entendeu que tinha que ser reprimido a todo o custo. “Se querem ser lésbicas”, foi-lhes dito, “sejam-no fora da escola”. Porque dentro daquela escola, parece, só se pode ser heterossexual (e mesmo assim sem expressões de afecto visíveis).
Mas se estamos hoje frente ao Ministério da Educação, é para trazer ao nível mais alto da tutela do sistema educativo um problema que vai para lá de uma única escola de Vila Nova de Gaia, e está longe de se colocar apenas no Norte.
Há que admitir que o caso da Escola Secundária António Sérgio, em Vila Nova de Gaia, recentemente denunciado pela comunicação social, revela um problema nacional a que urge responder: a total impreparação da escola, dos seus docentes e pessoal auxiliar ou administrativo para lidar com as expressões de afecto mais do que naturais entre jovens alun@s do Ensino Secundário que se encontram em idades normalmente exploratórias da sexualidade. E a ausência de investimento em tentativas de resposta a este obstáculo, que consideramos ser dos maiores à efectivação da Educação Sexual nas escolas, para lá da boa ou má vontade dos sucessivos ministros para com o tema.
Consideramos indispensável que o Ministério da Educação actue sobre o caso específico daquela escola mas, igualmente fundamental é dar um sinal político, nacional e pedagógico que previna casos idênticos no conjunto do sistema educativo. Um sinal da intolerabilidade da discriminação no meio escolar, sobretudo quando dirigida por professores contra alunos e alunas, assumindo a escola o papel de uma espécie de “polícia de costumes”.
Ao contrário, a escola é um local de formação para a vida: está na hora de o Ministério da Educação assumir responsabilidades na prevenção da homofobia nas escolas, na formação do pessoal docente e não-docente, na concretização e generalização da Educação Sexual e da Educação contra todas as discriminações.
Infelizmente, a atitude dos funcionários e professores da Escola Secundária António Sérgio teria provavelmente sido a atitude de muitos outros agentes do sistema educativo, noutras escolas. Que o Conselho Executivo em causa tenha instituído um regulamento informal proibindo as expressões de afecto entre alunos, e mesmo tendo como motivação a repressão discriminatória do afecto entre duas alunas, é uma situação a que só se pode responder com um sinal contrário, e com diálogo e formação.
Na António Sérgio, porém, docentes responsáveis pelos órgãos de gestão da escola comunicaram aos pais de uma das alunas, maior de idade e que é a sua própria encarregada de educação, o lesbianismo da filha, desencadeando um drama familiar. Revelaram à comunicação social pormenores da situação escolar das alunas que claramente são confidenciais fora da relação de confiança que se pressupõe existir entre a escola, os alunos e os encarregados de Educação. “Empurraram” as duas alunas para o absentismo escolar. Um director de turma julga-se no direito de comparar “homossexuais” e “drogados” em plena aula. Atitudes inaceitáveis no sistema educativo que, essas sim, exigem a apuração de responsabilidades por parte da tutela.
Porém, duas semanas após a divulgação do caso, nem sinal político, nem sinal de inquérito ao sucedido, nem salvaguarda da situação escolar das duas alunas no presente ano lectivo. Que pensa fazer o Ministério da Educação?
Panteras Rosa – Frente de Combate à Homofobia
24 de Novembro de 2005
Etiquetas: discriminação de Estado, escola, homofobia, jovens, Porto
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