Quantas António Sérgio há em Portugal?
Da mera ignorância à homofobia convicta vai, porém, um enorme passo. Claramente, o debate realizado na escola terá cumprido a sua função pedagógica mas não cumpriu a de mediação: a escola foi longe demais e a atitude era convictamente homofóbica, logo, não-alterável, apenas combatível.
Por isso mesmo, o caso invadiu esta semana as televisões e os jornais. O público fica a saber o que já sabiam as panteras: que um director de turma se atreveu a fazer a apologia da comparação entre "lésbicas" e "drogados" em plenas aulas e ainda se espanta - e diz aos jornais - que as alunas sao absentistas e vão chumbar o ano. Que o mesmo senhor cometeu a imoralidade de chamar a mãe de uma das alunas - para mais maior de idade e que era ela mesma a sua encarregada de educação - para lhe denunciar o lesbianismo da filha, numa intrusão inadmissível na vida privada. Que perante isto, a direcção da António Sérgio, ao invés de repreender o docente, resolveu aprofundar a táctica da repressão. Que a Direcção Regional de Educação e o Ministério da Educação preferem manter o bico calado a levar a cabo o absolutamente exigível inquérito e consequentes medidas disciplinares, como se a imobilidade não representasse uma total cumplicidade com a discriminação. Que os seus responsáveis nada têm feito para aplicar a Educação Sexual ou prevenir a discriminação nas escolas, e em particular a homofobia.
Estamos em contacto com as duas alunas e com a associação de estudantes da António Sérgio. Acompanharemos toda e qualquer acção que venham a dinamizar. Sobre este caso, queremos responsabilidades assumidas e que quem as tem dê o exemplo. Que fique clara a inaceitabilidade deste género de procedimentos. Que fique claro que a escola não é a polícia de costumes nem pode sê-lo. Que de uma vez por todas fique óbvia a necessidade de avançar em força com Educação Sexual nas escolas. Que não hajam dúvidas, finalmente, sobre quantas António Sérgio andam aí pelo país.
Sempre que soubermos das situações, as Panteras guardam um rugido para cada uma.
Etiquetas: discriminação de Estado, escola, homofobia, jovens, Porto
<< Home