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sexta-feira, maio 16, 2008

CARTA ABERTA À MINISTRA DA SAÚDE

comunicado de imprensa 16 de Maio de 2008
Comemoração do Dia Internacional Contra a Homofobia, 17 de Maio de 2008.

É mais que tempo de acabar com o preconceito na recolha de sangue!

Exma. Sra. Ministra da Saúde, Doutora Ana Maria Teodoro Jorge:
Tendo assumido recentemente a condução do Ministério da Saúde, não queremos deixar de lhe apresentar um caso que, em nossa opinião, se arrasta há demasiado tempo e que configura uma clara e inaceitável atitude discriminatória por parte do Instituto Português de Sangue.

Como será certamente do seu conhecimento, há já vários anos que diversas instituições e personalidades públicas têm denunciado a prática do IPS em excluir os homens que têm sexo com outros homens de potenciais dadores. Houve mesmo um momento, há três anos atrás, em que foi anunciada com pompa e circunstância a revisão do protocolo que justifica tal exclusão. Afinal, a notícia era falsa e nunca foi confirmada pela prática do IPS ou pela vontade, expressa em actos, dos antecessores de V. Exa.

A indignação aumenta por ser um organismo tutelado pelo Estado e directamente pelo Ministério que dirige, que promove atitudes discriminatórias baseadas em conceitos ultrapassados do que são os grupos de risco quando falamos de comportamentos sexuais. Como sabe, Sra. Ministra, outros organismos também tutelados pelo Ministério da Saúde, assim como uma grande maioria dos profissionais na área da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, há já muitos anos que abandonaram esta ideia de que haveria grupos de risco. O que se trata e importa prevenir são os comportamentos de risco e não há comportamentos exclusivos de heterossexuais ou de homossexuais. Aliás, num estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Ciências Sociais, conclui-se que uma preocupante taxa de jovens (e não jovens) não utiliza preservativo nas relações sexuais, que os comportamentos de risco estão muito mais generalizados do que seria de prever, mais de duas décadas após o surgimento dos primeiros casos de HIV em todo o mundo.

Há exactamente um ano, as Panteras Rosa dirigiram ao então Ministro da Saúde estas questões. Na sequência desta iniciativa fomos convidados a debater directamente com os responsáveis pelo IPS a sua política para a doação de sangue, e em reunião ficámos a saber que o IPS justifica a sua prática com protocolos internacionais a que está obrigado. Disse-nos ainda o Presidente do IPS que esta exclusão reside unicamente em dados epidemiológicos recolhidos nos EUA. A ausência de estudos que reflectissem a realidade portuguesa foi um dado apontado como limitador de um maior conhecimento e adequação das práticas à realidade.
Há um ano atrás o presidente do IPS aceitou que uma análise ponderada à realidade nacional poderia fazer o IPS inflectir a sua política caso os dados recolhidos para aí apontassem. Deixámos claro, porém, neste contacto com o IPS – posição em que aliás fomos secundados pelo coordenador nacional para o VIH-SIDA e pelas associações Médicos Pela Escolha e Grupo de Acção e Tratamento VIH-SIDA (GAT), que tal decisão não deverá depender de qualquer estudo epidemiológico: nenhum estudo sobre um grupo social, mesmo que conclua que existam diferenças em termos de epidemiologia (e essas são sempre conjunturais e mutáveis ao longo do tempo, exigindo sempre estudos sucedâneos), pode servir para uma exclusão generalista do mesmo grupo social, porque o foco da selecção dos dadores deve estar nos comportamentos e práticas sexuais de risco, e não na orientação sexual das pessoas, ou seja, cada pessoa é um caso.
Hoje sabemos que o sistema de recolha de sangue está próximo da ruptura em notícias que foram públicas há alguns meses, que a quantidade de sangue recolhida é absolutamente insuficiente para as necessidades. Sabemos ainda, por casos tristemente célebres, que a qualidade do sangue não é garantida pelo sistema que temos e que o IPS tanto preza.
Algum conhecimento da realidade dos hábitos sexuais dos portugueses foi revelado pelo estudo dos ICS e nada nem ninguém nos convenceu que a noção de grupos de risco não é um conceito absolutamente ultrapassado pelas práticas científicas.

Um ano depois e a propósito da comemoração, amanhã, dia 17 de Maio, do Dia Internacional Contra a Homofobia, as Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia, vêm solicitar-lhe uma decisão política que acabe com a prática discriminatória na recolha de dádivas de sangue por parte do IPS e que garantam procedimentos seguros e eficazes na recolha de sangue.

Certos de que a discriminação é inútil para assegurar a qualidade do sangue e de que o preconceito é prejudicial para o funcionamento de um sistema de doação solidária e fundamental para a saúde pública, queremos acreditar que o Ministério que dirige imporá, finalmente, regras claras e responsáveis para a recolha de sangue no nosso país.

Movimento Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia

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quarta-feira, outubro 03, 2007

A comunidade que queremos não se deixa matar


Ao surgir apenas nos anos 90, o movimento LGBT português, ao contrário do de outros países, não viveu enquanto tal o contexto de emergência face ao VIH que se verificou nos anos 80, com a comunidade gay a ser ceifada e apontada como centro e causa da infecção, e a ser obrigada a redefinir o seu activismo em função da nova ameaça. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos se tocava a rebate entre os militantes, se apontavam energias para a prevenção, se criavam organizações de doentes lgbt como o Act Up, por cá, alguns precursores do activismo envolviam-se activamente nas associações de luta contra a sida, mas a criação de um movimento social LGBT teria de esperar.
E quando surge, aparece já noutro contexto, que não é de desligamento total face à questão, mas que corresponde ao progressivo enfraquecimento do tema na agenda pública, com a evolução dos tratamentos, o aumento da esperança de vida das pessoas seropositivas e a invisibilização progressiva da morte por esta causa. A emergência relativiza-se, e este novo associativismo está mais preocupado em desligar a associação VIH-homossexualidade, do que em assumir a dianteira no combate à infecção, como fizeram os seus congéneres europeus na década anterior.
E eis-nos hoje chegados a uma situação insustentável, em que sabemos empiricamente que há um relaxamento geral das atitudes face ao risco nas relações sexuais, temos a certeza empírica de que este relaxamento tem uma incidência particular na comunidade gay, quanto mais não seja porque ela continua amplamente “no armário” imposto pela estigmatização social e isso tem reflexo evidente na forma como se vivem as relações amorosas e sexuais. Porque não há, na verdade, “comunidade”, embora exista hoje um potencial dela e alguma abertura social conquistada a pulso por dez anos de movimento, e a discriminação seja ainda hoje tão auto-infligida como sofrida da parte de uma sociedade heterossexista.
Sabemos que o momento é de emergência, e no entanto continuamos a saber sem estudar, sem estudos epidemiológicos, sem investimento real. E quando falamos neles, não faltam vozes a afirmar o perigo de recolher e divulgar dados que apontarão certamente uma subida da taxa de novas infecções entre homens que têm sexo com homens, como se o silêncio fosse estratégia para lidar com qualquer problema, como se o conhecimento não fosse uma base de resposta, como sendo melhor que um dia destes tais dados sejam divulgados apesar de nós, em vez de partir de nós mesmos - movimento - o sinal de alerta e a atitude de não ficarmos parados face a uma realidade só por enquanto negável.
A nossa responsabilidade de activistas é evidente, e importa pouco se os nossos colectivos são associações de luta pelos direitos LGBT ou de luta contra a sida. A sida é assunto de todos/as, sobretudo quando atinge aqueles/as com quem trabalhamos, e quando sabemos que a comunidade para a qual trabalhamos está a ser de novo duramente atingida, provavelmente com incidência especial entre os jovens, mas fecha os olhos à doença, pois esta é incompatível com os modelos hedonistas, redutores e discriminatórios promovidos nomeadamente pelo crescente comércio gay. A sida não é sexy, de facto, nem é vendável, e só assim se explica que no meio gay actual pareçam não existir seropositivos.
E se lutar pelos direitos LGBT – como pelos de outras populações marginalizadas – é já lutar contra o VIH, é claro que isso não basta neste momento. A luta contra a sida é um tópico indispensável a re-incluir nos discursos associativos, como parte de um chamado à responsabilidade colectiva e individual de uma população oprimida que ainda hoje não se mobiliza pelos seus direitos, se discrimina mutuamente em vez de fazer pela protecção do semelhante, mantém pouca consciência e muito preconceito.
A comunidade que queremos é consciente da opressão que sofre, e das suas origens; não promove o sexismo ou a transfobia, nem nega, nem discrimina as pessoas seropositivas, assumindo a diversidade da sua própria realidade; recusa qualquer tipo de discriminação, de preconceito, de marginalização; envolve-se colectiva e individualmente na construção de um movimento que transforme as vivências sociais e sexuais face à homossexualidade; contribui para a criação de um sentimento colectivo, comunitário, face à discriminação; não olha para o lado face a uma ameaça evidente; assume-se como comunidade e age de acordo com isso.

A comunidade que queremos não é a que temos, e mesmo a que temos está em risco. Sabemos já, por experiência própria, como a temática da sida pode servir para aprofundar a marginalização de comunidades já estigmatizadas. Não agir de acordo com essa certeza é tão criminoso hoje como o teria sido nos anos 80.

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sábado, julho 14, 2007

Reunião com a direcção do I.P.S. - 12 Julho

Panteras Rosa, 13 de Julho de 2007
Reunião com a direcção do Instituto Português do Sangue de 12 de Julho


No dia 16 de Maio, as Panteras Rosa entregaram no Ministério da Saúde um pedido de intervenção do Ministro Correia de Campos junto do Instituto Português do Sangue (instituição sob a sua tutela), apelando à toma de medidas políticas necessárias para pôr cobro à discriminação de homossexuais masculinos na doação de sangue. Na sequência desta acção, foi requisitada, pelo próprio director do IPS, Dr. Gabriel Olim, uma reunião com as Panteras Rosa, no sentido de esclarecer a situação.

Resumo do encontro: Na referida reunião estiveram presentes, por parte das Panteras Rosa, Sérgio Vitorino e Bruno Maia, da parte do IPS figuraram Gabriel Olim, director, uma consultora para a Saúde Pública e uma consultora Jurídica.
A reunião iniciou com uma pequena introdução do director, que não só referiu os objectivos essenciais do IPS – recolha de uma grande quantidade de dádivas para fazer face às necessidades do país e de apuramento da qualidade dessas dádivas através do rastreio de sangue contaminado – como nos explicou que Portugal, está desde há 4 meses em auto-suficiência transfusional, isto é, a doação de sangue, pela primeira vez, é suficiente para as necessidades dos nossos hospitais.
No ponto seguinte, o Dr. Gabriel Olim explicou que a base do critério de exclusão para homossexuais masculinos, reside na uniformização de critérios internacionais, a que o IPS está sujeito por integrar uma rede europeia de transfusão sanguínea. De acordo com este, em quase toda a Europa, os homossexuais masculinos estão excluídos da dádiva, facto que assenta unicamente em dados epidemiológicos. Estes dados, que terão sido recolhidos nos EUA, mostram que a aceitação da doação por homossexuais implicaria um risco de recolha de sangue contaminado aumentado em 100%. Ou seja, o risco de um doente receber uma dádiva contaminada duplicaria! Aceitando, por contra-argumentação nossa a desactualização destes dados e a desadequação à realidade Portuguesa, Gabriel Olim, referiu que para contrariar estes dados e acabar com a discriminação, só o poderá fazer quando a nível europeu surgir algum estudo epidemiológico de base populacional e fidedigno, que demonstre claramente que a prevalência de infecção por HIV, HBV e HCV não apresenta diferenças significativas entre homo, bi, ou heterossexuais. Só com base em informação deste tipo é que o IPS poderia aceitar mudar este critério. Caso contrário, este instituto teria de justificar-se perante os organismos internacionais e a opinião pública.
Perante a contra-argumentação das Panteras, reafirmando a necessidade de se falar em comportamentos ou práticas de risco e não em grupos de risco, da actualização dos critérios de doação, tornando-os mais ajustados à realidade, de percepção por parte do IPS que não é a orientação sexual que está em causa mas sim as atitudes individuais de cada dador face à sua sexualidade, o director do IPS volta a reafirmar a pressão a que está sujeito e que uma alteração de política só poderia advir de um facto cientificamente concreto.
É nesta fase que nos é proposto, pelo IPS, um acordo comum: o IPS sugere a realização de um estudo epidemiológico, por uma entidade independente, com proposta de colaboração da Coordenação Nacional para a infecção do HIV/Sida, em que fossem avançados resultados comparativos, que atestem estatisticamente não existir diferença significativa na prevalência de doenças infecciosas entre grupos de homossexuais e grupos de heterossexuais. Desta forma, o IPS comprometer-se-ia a alterar as regras na selecção de dadores e a apresentar os resultados deste estudo a nível Europeu, no sentido de sensibilizar os restantes países a alterarem também as suas regras. O IPS disponibilizar-se-ia a colaborar de forma independente e aceitaria a presença de associações LGBT e de luta contra a SIDA como observadores externos. O Dr. Gabriel Olim reforçou ainda que esta seria a única forma de conceder às alterações necessárias e seria também uma forma de criar uma trégua com a contestação que lhe tem sido dirigida.
Confrontado com a discrepância e deturpação preconceituosa das regras e critérios nos vários centros de recolha de sangue do país – ex. ainda há menos de uma semana recebemos queixa de um dador homossexual a quem o médico responsável de um centro de recolha em Torres Vedras afirmou que “para os homossexuais não há período de janela definível”. Outro exemplo, o próprio IPS reconhece a existência ilegítima, face às suas normas estipuladas, de casos em que dadoras lésbicas foram excluídas pela sua orientação sexual - o IPS comprometeu-se ainda a enviar uma nova (Olim referiu circulares anteriores, de que não tínhamos conhecimento) circular normativa a estes, no sentido de cumprirem objectivamente as regras centrais do Instituto.

Comentário: Deste encontro retiramos várias conclusões importantes. Em primeiro lugar, pela primeira vez, o IPS demonstra, ao convocar a reunião, que a pressão que tem sido feita por parte de partidos políticos e movimento LGBT tem causado incómodo junto deste instituto. Em segundo lugar, o IPS reconheceu claramente que as declarações do ano passado segundo as quais estava em preparação uma revisão das normas que afectaria esta proibição eram apenas estratégicas, e portanto, falsas.
Depois interpretamos que a proposta de realização deste estudo é, claramente, uma tentativa de silenciamento da questão junto daqueles que se têm manifestado contra as regras de doação. A realização de um estudo desta envergadura leva o seu tempo, tempo que seria suficiente para o IPS ter a trégua desejada.
Contudo, a proposta do IPS lança um desafio interessante, e até independente da problemática do sangue: estudar os comportamentos sexuais dos Portugueses (e não apenas da população homossexual), permitindo-nos perceber a realidade dos comportamentos para a saúde e das IST’s também na comunidade homossexual com utilização de recursos estatais, o que seria inédito.
Deixámos, assim, claro ao presidente do IPS que um estudo desta natureza nos interessa, mas não porque permita retirar conclusões para doação de sangue: nenhum estudo sobre um grupo social, mesmo que conclua que existam diferenças em termos de epidemiologia (e essas são sempre conjunturais e mutáveis ao longo do tempo, exigindo sempre estudos sucedâneos), pode servir para uma exclusão generalista do mesmo grupo social, porque, lá está, o foco da selecção dos dadores deve estar nos comportamentos e práticas sexuais de risco, e não na orientação sexual das pessoas, ou seja, cada pessoa é um caso. Mais, afirmámos que qualquer estudo sobre a sexualidade dos portugueses, mesmo que venha a apontar diferenças na incidência de IST’s entre hetero e homossexuais, comprovará algo muito mais determinante – ou devia sê-lo – para quem pretende garantir a qualidade do produto sanguíneo: a inexistência de práticas sexuais especificamente homossexuais – sexo anal, sexo oral, todos os tipos imagináveis de penetração genital ou com recurso a objectos, continuamos à espera que nos indiquem uma prática, de maior ou menor risco, que se possa dizer que é praticada por homossexuais e não exista entre heterossexuais. Visto que os dados epidemiológicos hoje disponíveis em Portugal apontam, por exemplo, para um grande crescimento da taxa de infecção pelo VIH entre mulheres casadas, perguntámos ao presidente do IPS se seria justificável que isso fosse critério para excluir liminarmente da doação as “mulheres casadas”. Obviamente que assim se demonstra um duplo critério, e que a generalização só é aplicada contra um grupo socialmente estigmatizado como é o da população homossexual masculina. O IPS reconhece, claramente, que a norma não existe por critério médico, mas como consequência do preconceito social contra a homossexualidade.
De qualquer forma, ao propor tal estudo, Gabriel Olim, a quem reconhecemos – e deve registar-se – capacidade de diálogo e disponibilidade para ouvir e argumentar (que o seu antecessor não tinha), reconhece que a norma proibitiva do IPS se baseia em… nada, ou seja, num desconhecimento de facto da realidade do grupo social que se exclui liminarmente.
Sabemos, por outro lado, que a Coordenação Nacional para a Infecção VIH-Sida já se encontra a financiar um amplo estudo sobre a sexualidade dos portugueses, pelo que não se justificará a realização de um novo estudo, muito menos um estudo apenas epidemiológico. De qualquer forma, tal como o IPS pelo seu lado, estamos a desenvolver contactos com o coordenador nacional para auferir a sua posição sobre esta proposta. Se ela, como prevemos, apontar para este estudo já em realização, naturalmente, convidaremos o IPS a retirar dele conclusões, não quanto aos dados epidemiológicos, porque esses não são generalizáveis (o IPS não generaliza para todos os homens heterossexuais, por exemplo, o facto estudado de 40% destes recorrerem a sexo com prostitutas e de uma alta percentagem o fazer sem recurso ao preservativo), mas sobre, precisamente, a inexistência de práticas sexuais especificamente homossexuais.
Em conclusão:
- estudos, para mais não-exclusores da realidade lgbt e financiados estatalmente, colaboraremos com o IPS e outras entidades, em todos os que quiserem realizar, desde que não sejam tendenciosos. Não temos medo da informação que estes possam revelar, nem somos dos que pensamos que se os dados epidemiológicos revelarem um crescimento das taxas de infecção entre homossexuais, é um desastre que tais dados sejam divulgados. Só conhecendo a realidade se pode intervir nela. Se o movimento LGBT tiver por essa via de regressar em força à prevenção, como nos anos 80 foi necessário fazer, é porque isso se revela necessário. Se – e repetimos, se - assim for, assim terá de ser, e não podemos fugir a essa responsabilidade. Mais – achamos duvidoso que, a serem revelados dados que indiquem um crescimento das taxas de infecção entre a população LGBT, eles não sejam acompanhados pela constatação de um crescimento idêntico entre a população heterossexual.
- Isso não tem nada que ver, porém, com a questão da doação de sangue. O fim da norma proibitiva justifica-se pela inexistência de práticas sexuais especificamente homossexuais, e pela ilegitimidade de generalizações sobre todo um grupo social. Só os comportamentos de risco importam, e esses só são analisáveis pessoa a pessoa, e se o IPS insiste em não pensar assim, então é este organismo o primeiro a colocar em risco a segurança do produto sanguíneo, e a eficácia da sua própria missão. Que os responsáveis políticos e os médicos do IPS não o entendam, é sem dúvida o maior e mais perigoso comportamento de risco no que toca à protecção da qualidade do sangue.
Esperamos assim, que brevemente seja planeada uma reunião entre associações LGBT, Coordenação Nacional para a infecção VIH/Sida, associações de luta contra a sida e IPS, e prestaremos contas públicas sobre o desenvolvimento deste processo de diálogo. Não esperamos, pelo que acabamos de descrever, que o IPS altere a norma discriminatória a breve prazo, pelo que o nosso único compromisso é o do diálogo, da continuação da afirmação das nossas posições, sem prejuízo da colaboração nos estudos independentes que venham a ser propostos.
Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia

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quinta-feira, junho 14, 2007

MÉDICOS CONTRA DISCRIMINAÇÃO NA DOAÇÃO DE SANGUE

rui pato
Hoje, Dia Mundial do Dador de Sangue, a associação MÉDICOS PELA ESCOLHA, em conjunto com o Coordenador Nacional da Luta Contra o VIH-Sida, Henrique Barros, e o G.A.T. (Grupo Acção e Tratamento VIH-Sida), realizou uma conferência de imprensa em Lisboa pela revisão das normas e procedimentos na recolha de dávidas de sangue, pelo fim da discriminação de dadores homossexuais masculinos.
Expomos as posições enunciadas, com uma nota de satisfação por serem finalmente os profissionais de Saúde a reconhecer a incorrecção e a inexistência de base científica para a discriminação existente.







Comunicado MÉDICOS PELA ESCOLHA, 14 de Junho de 2007, Dia Mundial do Dador de Sangue:
Médicos defendem aplicação das normas europeias

No Dia Mundial do Dador de Sangue, a associação Médicos Pela Escolha entende prestar o seu contributo público à causa da dádiva de Sangue, questionando os motivos da manutenção do critério "Práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo (dador masculino)" entre os factores que determinam a exclusão de potenciais dadores de sangue.
Porque essa forma de discriminação não garante uma melhor qualidade dos produtos armazenados nos bancos de sangue do nosso país e porque, em termos de saúde pública, não só já não faz sentido falar em grupos de riscos como pode mesmo ser prejudicial, defendemos a sua abolição.
Porque a questão primordial, em termos de saúde, é a obrigação de garantir a protecção de quem necessita ser transfundido, a associação Médicos Pela Escolha defende que a primeira abordagem ao eventual dador, feita na forma de recolha de dados anamnésticos, seja o mais pragmática possível, não incite à mentira nas respostas e que seja SEMPRE entendida como uma primeira forma de rastreio.
A recolha de elementos clínicos relativos à sexualidade do sujeito deve incidir sobre os comportamentos sexuais, e não sobre um critério arbitrário e irrelevante para a protecção do produto sanguíneo e do seu receptor, como é o da orientação sexual ou o da existência de contacto sexual entre homens.
A homossexualidade masculina não é factor predisponente para nenhuma doença, sendo também duvidoso que possam ser triados comportamentos sexuais de risco especificamente homossexuais.
É, aliás, de notar a incoerência quando o referido critério está ausente na selecção dos candidatos a doação de medula óssea.
O Plano Nacional de Saúde 2004/2010 admite a insuficiência das dádiva de Sangue a nível nacional, a necessidade da uniformização dos critérios de avaliação das dádivas e a urgência da implementação de um sistema de hemovigilância adequado. É Portugal que se atrasa na adopção da Directiva Europeia 2004/33/CE, que vincula automaticamente os Estados-membros e não contém qualquer referência à discriminação de dadores homossexuais:
(
http://europa.eu.int/eur-lex/pri/en/oj/dat/2004/l_091/l_09120040330en00250039.pdf ):
"Permanent deferral criteria for donnors of allogeneic donations (…)
Sexual behaviour: Persons whose sexual behaviour puts them at high risk of acquiring severe infectious diseases that can be transmitted by blood".
Afinal, como esclareceu em 2002 o Ministério da Saúde quando questionado sobre os passos e testes "aplicados na triagem do risco da doação de sangue contaminado nas instituições hospitalares" e o seu grau de fiabilidade:
"Todos os dadores de sangue são sujeitos a triagem clínica efectuada por médico (obrigatória pela legislação portuguesa). O candidato a dador é questionado claramente sobre os pontos relevantes contidos no guia "Critérios de Selecção de Dadores de Sangue". Após esta etapa e caso se verifique a elegibilidade do dador para a doação, e realizada esta, a sua dádiva será submetida a um processo de rastreio laboratorial que engloba as análises obrigatórias por legislação portuguesa (HIV1 e 2; HTLVI/II; Anti-HCV; HBs Ag; Anti-HBC; e, ALT), com testes cuja sensibilidade e especificidade ronda os 99%.
Estão em ensaio e a ganhar a natural destreza técnica os profissionais, que vão realizar as novas técnicas de Amplificação de Ácidos Núcleicos (TAN), para completar o painel de análises ao sangue doado, garantindo a este um acréscimo de segurança viral, conforme o actual estado da arte."
Importa notar que os referidos TAN passaram entretanto a ser utilizados, com consequente aumento da fiabilidade dos resultados: diminuiu a ocorrência de falsos negativos e foi significativamente encurtado o "período de janela", período de tempo em que os testes não identificam a infecção apesar de esta existir, que atingia os seis meses e que, com este tipo de avaliação laboratorial varia entre uma a duas semanas.
No entanto, embora o critério discriminatório "homens que têm sexo com homens" tenha sido retirado da página do Instituto Português do Sangue (IPS) em 2005, mantém-se nos manuais que já "estão a ser revistos" desde, pelo menos, essa altura. Tarda a publicação da dita revisão e a nova Lei Orgânica do IPS.
Importa também atender à realidade do sistema de dádiva de sangue. As associações LGBT têm alertado para grande disparidade na forma como as normas são interpretadas e aplicadas em diferentes estabelecimentos de saúde ou dependendo do pessoal médico responsável, relativamente aos homossexuais masculinos candidatos a dador. Confirma-se, portanto, a necessidade de harmonização das regras e da sua correcta aplicação.
Só a testagem de TODO o sangue permite uma maior segurança e qualidade de todos os produtos hemáticos, sangue e seus derivados.
Médicos Pela Escolha
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Declaração do Doutor Henrique Barros, Coordenador Nacional da Luta Contra o VIH-Sida, 14 de Junho de 2007, conferência de imprensa da MPE:

"A dádiva de sangue é um problema social, psicológico, profundamente humano. Mais que um problema médico. É a manifestação de uma responsabilidade e de um gesto ético. Actualmente, com a tecnologia disponível, as transfusões são essencialmente um gesto técnico seguro. Não se aplicam naturalmente as lógicas limitantes de um qualquer princípio da precaução para além dos limites da boa prática clínica.
Os modelos de rastreio selectivo, por passos, baseados em características dos individuos ligadas às suas escolhas pessoais ou estilos de vida, sem referência a marcadores biológicos, são cientificamente inválidas, promovem o desperdício e levam inevitavelmente à discriminação e ao estigma. Por isso, não há qualquer sentido em eliminar dadores com base na sua orientação sexual."

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segunda-feira, maio 21, 2007

Nem à minha mãe posso doar sangue!

Continua a haver muitos ecos da acção sobre o sangue, muita pessoas a comentar e também algumas dúvidas, que podemos ir esclarecendo. Retirados, mais ou menos aleatoriamente, da blogoesfera:

No Glória Fácil, o blog da jornalista Fernanda Câncio (entre outr@s), um texto da médica Ana Matos Pires, que esteve connosco na referida acção das Panteras: http://gloriafacil.blogspot.com/2007/05/do-caixoto-do-glria-sobre-o-assunto-do.html
Nada podia ir melhor de encontro aos nossos objectivos do que motivar um discurso médico contra esta proibição, que possa desenvolver-se para lá do activismo LGBT, e partilhar connosco as dúvidas que
temos colocado sobre a segurança do sistema de recolha de sangue, e os riscos para a saúde pública que consideramos estarem em causa, e dos quais a discriminação de dadores homossexuais é quase apenas um sinal.

http://womenageatrois.blogspot.com/2007/05/blog-review-do-sangue-e-de-outras.html

http://womenageatrois.blogspot.com/2007/05/da-desonestidade-ou-da-burrice-googlar.html

Leiam também a discussão da Fernanda Câncio, no mesmo blog, com alguns defensores da proibição.
http://gloriafacil.blogspot.com/2007/05/os-doutoramentos-pelo-google.html
http://gloriafacil.blogspot.com/2007/05/o-direito-do-joo-miranda-ignorncia-e-ao.html
http://gloriafacil.blogspot.com/2007/05/e-o-jcd-tambem-quer-ter-direito-ao.html

Não percam, no RITITI, o excelente texto PRÉMIO VAI AO CU A TI: O ESTADO PORTUGUÊS, EM GERAL (http://www.rititi.com/2007/05/prmio-vai-ao-cu-ti-o-estado-portugus-em.html)


Infelizmente, a discriminação chega mesmo ao ponto de dadores gays poderem ser recusados até quando se trata de doarem para os seus familiares, uma dúvida colocada, por exemplo, no Ser Gay .

Como já acompanho a questão da doação de sangue há muitos anos, sei do que falo. A questão foi originalmente levantada pela ABRAÇO, e, nos anos 90 por um dos precursores do movimento LGBT português - o José Carlos Tavares, do GTH-PSR. Em 2003, há registo de uma queixa apresentada por ele ao Ministério da Saúde: quis doar sangue para a sua mãe, então em internamento hospitalar no Garcia D'Horta, e foi impedido de o fazer.
Tenho a cópia desse documento à minha frente.

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sexta-feira, maio 04, 2007

HIV e Pornografia

Quer se queira, quer não, a pornografia tem assumido um papel cada vez mais relevante no inicio da sexualidade d@s jovens. Este inicio corresponde às primeiras aprendizagens que se fazem sobre a mesma. Desta forma é preocupante o não uso de preservativos nestes filmes, revistas, etc. Passando um comportamento de risco a ser apresentado como algo banal,habitual, comum e aceitável.
Para mim é ainda mais preocupante a quase completa falta de interesse por esta situação na
"comunidade" heterossexual. Que prefere enterrar a cabeça na areia, fingir que @s jovens não
vêem "essas coisas" e seguir em frente. Claro que esta falta de interesse tem ocurrido na "comunidade" LGBT, mas a dimensão do problema, parece-me muito mais grave, do lado hetero. Que continua a afirmar que a SIDA é um problema de "drogados e paneleiros". Depois as pessoas LGBT é que assumem muitos comportamentos de risco e depois não podem dar sangue.

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sexta-feira, maio 19, 2006

Sangue: prossegue a discriminação mais básica

Como suspeitávamos, apesar do anúncio por parte do Instituto Português do Sangue de que as normas relativas à doação estarão prestes a ser alteradas para deixar de excluir os dadores homossexuais, a discriminação continua a ser actualmente praticada com os mais discriminatórios dos argumentos que têm sido utilizados por este organismo.

Recentemente, várias Panteras da cidade do Porto testaram a possibilidade de doação no Hospital de Stº Antº, para verem recusada a sua doação após preenchimento do inquérito. Argumentos utilizados pela médica responsável:

- "os bancos de sangue recusam a doação por parte de homossexuais porque a Lei a proíbe".
- "o sexo anal é muito mais duro e comporta mais riscos de contaminação" - como todos sabemos, heterossexuais não fazem dessas coisas
- "os homossexuais são considerados mais promíscuos e sujeitos a infecção".

Continuamos confiantemente à espera de que as regras mudem por si, como prometido? Não, parece-nos que não!...

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sábado, março 25, 2006

IPS: Hipocrisia até ao fim

Sabemos hoje pelo Diário de Notícias que o Instituto Português de Sangue prepara finalmente o fim da proibição de doação de sangue por parte de dadores homossexuais masculinos. Sabemos, porque uma jornalista - Fernanda Câncio - resolveu verificar a situação, e descobriu que as novas regras, que aguardam ainda publicação, já assumiram a eliminação dessa discriminação desde final do ano passado. Na verdade, pelo IPS, não teríamos sabido, uma discrição bastante compreensível - ainda assim inadmissível - perante uma discriminação preconceituosa que era combatida há já cerca de 15 anos pelas associações LGBT (nos últimos dois anos, as Panteras agiram com regularidade sobre o tema), e cuja existência, naturalmente, nunca se soube justificar. Mais uma vez, o presidente do IPS demonstra como uma boa notícia - a da nossa vitória contra um preconceito injustificado - pode ser dada da pior maneira. Não apenas pelo secretismo, mas pelos motivos invocados. É um passo significativo que o responsável admita que a discriminação existia nas regras do IPS e era assim aplicada - é que nos últimos dois anos, perante as denúncias das associações lgbt, este insistia em enganar a opinião pública tentando fazer passar a ideia de que tal discriminação já não seria regra e que os potenciais dadores só seriam questionados, independentemente da sua orientação sexual, sobre "comportamentos de risco" (sem nunca explicar porque é que, por exemplo, as questões sobre sexo anal apenas eram colocadas a homens que reconhecessem ter relações com outros homens, como se houvesse práticas sexuais exclusivas de qualquer orientação sexual). Em que ficamos, então? A acreditar em toda a sucessão de justificações do IPS, este estaria agora a revogar regras que já não estariam em vigor. Pois, a questão é que estavam. Mas a coisa piora: diz o senhor que a alteração não foi anunciada publicamente para não dar a ideia de que não era baseada em critérios científicos e que o IPS estaria a ceder a pressões exteriores. Diz, escândalo ainda mais profundo, que agora os homossexuais masculinos já podem doar sangue porque há "novos testes" com mais eficácia na despistagem da Sida e das hepatites, insinuando, como de resto sempre fez, que os gays serão um grupo de risco relativamente a estas doenças (era este senhor que defendia - veja-se a cientificidade dos argumentos - que a proibição se justificava pela "maior promiscuidade" dos homossexuais). Pior que quem discrimina, é o discriminador arrependido que na hora da eliminação do preconceito se nega sequer a admitir que este tenha existido. E pior ainda do que o discriminador arrependido mas que nega ter discriminado, é aquele que corrige a discriminação formal - porque esta era indefensável e porque realmente e felizmente, as "pressões exteriores" existiram - repetindo os mesmos argumentos discriminatórios. Com prendas destas, o que nos resta? Festejarmos cautelosamente um progresso inegável da luta pelo fim de mais uma discriminação, e desconfiarmos muito da sua concretização, quanto mais não seja por este péssimo início. Estaremos atent@s à publicação destas novas regras. Até lá, manteremos disponível no website das Panteras a carta de protesto a cujo envio para o IPS temos apelado - pensamos que se justifica mais do que nunca. Mas, mais do que isso, verificaremos a sua aplicação (o IPS já está habituado às nossas acções directas, de qualquer forma), que não será evidente nem pacífica em todos os centros de recolha de sangue ou junto do conjunto do pessoal médico que as pratica. Aliás, diz a pantera desde sempre, esta é apenas uma de entre muitas discriminações correntes no sistema de saúde contra a população LGBT.

As imagens neste post, da autoria de Cláudia Damas, são de uma das primeiras ações públicas das Panteras Rosa, a 28/06/2004 (prévia à existência deste blogue), junto à fachada do IPS, em Lisboa. Face à ação, a segurança do edifício chamaria a polícia. Em vez de fugirem, as Panteras sentaram-se tranquilamente numa esplanada mesmo ao lado, ocultando os materiais da ação e ficando a ver a viatura da polícia a passar para cá e para lá em busca de um hipotético grupo em fuga. 




















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segunda-feira, outubro 24, 2005

Sangue: fim da homofobia ou engodo?

Chega-nos através de uma mensagem do Partido "Os Verdes", que endereçou um requerimento sobre o assunto, uma resposta do Ministério da Saúde, em carta assinada pela Chefe do Gabinete, Teresa Oleiro, com a data de 17 de Outubro de 2005, que sugere estar para breve a política discriminatória na doação de sangue.
Afirma o Ministério:"Actualmente, não estão mais em causa os grupos de risco, mas sim os comportamentos individuais, independentemente da sua orientação sexual, que deverão ser sujeitos aos mesmos critérios de avaliação e selecção de dadores de sangue no exame clínino feito pelo médico que avalia cada candidato(a) a dador(a) de sangue.Nesse sentido, o Instituto Português do Sangue divulgará um novo texto técnico-científico actualizado através de Circular Normativa Nacional, para todos os serviços de saúde com colheita de sangue a dadores, chamando a atenção e condenando práticas já não admitidas, onde elas possam eventualmente existir, com a recomendação de não mais se suspender qualquer dador, sem avaliação clínica, só porque o mesmo referiu a sua orientação sexual"

Atenção, muita atenção: os serviços de recolha de sangue não têm qualquer uniformização de critérios e práticas, e estas diferem de centro para centro e até de médico para médico. De facto, a discriminação exercida pelos serviços de recolha de sangue não só não era directamente sobre a orientação sexual, como em alguns casos também não incidia directamente sobre as situações de "homens que têm sexo com outros homens". O pretexto utilizado para exclusão era, sim, muitas vezes, a prática de sexo anal (sem perservativo ou mesmo com, em alguns casos), prática sobre a qual apenas eram inquiridas os homens que respondiam ter sexo com outros homens. Aos homens que se declaravam heterossexuais, não era colocada qualquer questão sobre penetração anal. Julgo que esta notícia é de facto um bom sinal, mas cabe-nos a todos e todas estarmos atent@s aos desenvolvimentos, porque afinal o responsável do Instituto Português de Sangue é ainda exactamente o mesmo senhor que há muito poucos anos afirmava ao Expresso que a proibição se devia ao facto de os homossexuais serem "promíscuos".

As práticas de recolha de sangue são tão díspares que as panteras rosa têm mesmo denúncias de casos em que também mulheres lésbicas foram impedidas de fazer a sua doação.
Não tenho nada que dizer aos outros o que fazer, mas talvez caiba também às associações de carácter mais institucional fazerem uma nova abordagem ao Ministério da Saúde (e ao IPS) para explicar isto e verificar a forma concreta que vai tomar este suposto fim da política discriminatória.

E mais do que nunca, quanto mais não seja (sendo optimista) para acelerar o processo de abolição da norma discriminatória prometida pelo Ministério da Saúde, é necessário manter a pressão. Mesmo que já o tenham feito, fica a sugestão de voltarem a utilizar o protesto on-line disponibilizado no site das panteras rosa em http://www.panterasrosa.com/chateiaoips.html

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quarta-feira, junho 15, 2005

A homofobia (está-lhes) no sangue

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Segundo dados da própria Organização Mundial de Saúde, 80% do sangue utilizado nas transfusões não é seguro (ou seja não é testado para detectar a presença de doenças, como as hepatites B e C, o HIV ou a sífilis).
Uma política da recolha de sangue em Portugal, para contornar a ausência de testes, mas promovendo uma cultura de "segurança" nas dádivas de sangue, é a interdição da doação de sangue a gays. As justificações apresentadas são de dois tipos: a "prevalência significativamente mais elevada de HIV" (sic) entre os gays; e a prática de sexo anal.
D@s responsáveis pela política do sangue em Portugal esperava-se, pelo menos, o domínio dos factos e uma actuação adequada à realidade. A análise da prevalência das infecções por HIV por grupos de risco foi substituída internacionalmente há anos pela de comportamentos de risco. Mais, o grupo em que a infecção está a crescer mais rapidamente actualmente é o das mulheres heterossexuais, que representam já mais de metade das pessoas infectadas a nível mundial.
Completamente desfasadas da realidade, as instituições portuguesas servem-se da e alimentam a homofobia para esconder um grave problema de saúde pública em Portugal: a realidade que o sangue recolhido em Portugal, na sua maioria, não é testado, e é potencialmente perigoso.

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