Os estudantes e os marginais
Associação inaceitável entre homossexualidade, prostituição, droga e criminalidade defendida ontem por associações de estudantes.
Numa altura em que a extrema-direita desenvolve movimentações junto do público universitário e até candidata listas a eleições para associações de estudantes (nada é por acaso, nem sequer ter sido a cidade universitária o local escolhido pelo PNR para o seu mais recente mural contra o "lóbi gay"), algumas associações de estudantes provavelmente mais na linha política da direita clássica, resolveram recuperar sobre a homossexualidade - com o beneplácito das declarações policiais que desmentiam a situação de insegurança mas não a associação abusiva - nada mais nada menos do que o discurso e as associações que eram típicas no período do fascismo: homossexualidade, prostituição, droga e crime.
Numa reportagem transmitida ontem à noite pela televisão SIC, com base numa diminuta concentração de estudantes, e a coberto da temática da "insegurança" que sentirão os alunos da Cidade Universitária, os presidentes das associações de estudantes da Faculdade de Direito e do ISCTE assumem-se não só como defensores dos interesses dos alunos, mas igualmente como púdicos guardiães da moral e dos bons costumes, ao relacionarem os encontros nocturnos entre homossexuais que têm lugar naquela zona, com criminalidade e até tráfico de droga. Ou seja, associando a frequência de engates homossexuais e a referida insegurança.
A linha de argumentação é extradordinária e seria ridícula se não estivesse imbuída de falsidades e de preconceito. A zona da Cidade Universitária tem problemas de segurança reconhecidos, sobretudo no periodo diurno, que é aliás aquele em que existe frequência dos alunos universitários. E é realmente, à noite, um dos pontos de Lisboa, utilizados para encontros homossexuais, que como se sabe não gozam da mesma legitimidade social que os encontros heterossexuais.
Escusado será argumentar sobre a discriminação de que é alvo a comunidade homossexual em Portugal e em como ela empurra muitas pessoas para contextos semi-clandestinos de relacionamento sexual, amoroso, ou simplesmente social.
Mas não só não existe ali, ao contrário de outras zonas, qualquer tipo de prostituição, apenas encontros recatados e consentidos (e não expostos à visão ou ao incómodo de quem quer que frequente a zona) entre pessoas adultas e senhoras das suas decisões. Muitos menos, o "engate" homossexual terá alguma ligação a situações de criminalidade ou de tráfico de drogas.
As declarações destes dirigentes associativos são assim, claramente, ou pelo menos nisso se transformaram, menos preocupadas com a insegurança que dizem estar a ser sentida pelos colegas que representam, e mais com uma cruzada moral, tendenciosa, ignorante e discriminatória, que ofende não apenas a comunidade gay mas também a inteligência dos alunos destas faculdades e, em primeiro lugar, daqueles que entre eles se definirão como homossexuais.
Perante ambas as associações de estudantes, queremos portanto afirmar que:
- para posições de extrema-direita já basta a mesma;
- o alegado problema de insegurança se resolve lidando com ele e não procurando um bode expiatório nem de longe relacionado;
- tal posicionamento moralista merece o nosso inteiro repúdio, como esperamos que o mereça da parte dos alunos.
Etiquetas: drogas, educação sexual, escola, homofobia, polícia
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