sexta-feira, março 16, 2007
Como se sabe, no SNS classificam-se as pessoas pelo seu género que normalmente é determinado à nascença pelos genitais. A coisa funciona para a maioria da população. No entanto, há casos em que esta classificação não funciona.
Com as pessoas Transexuais este tipo de classificação revela-se erróneo e provoca situações caricatas de discriminação. Basta pensar, por exemplo, na renovação de um BI, em que, na foto aparece uma face feminina/masculina e no nome próprio um do género oposto. (E quando entrarem os novos cartões em circulação vão ter o género).
Em relação aos processos de transição seria de esperar que os psiquiatras e psicólogos, conhecedores a fundo desta problemática, já se tivessem imposto como especialistas que são, logo com uma opinião mais fundamentada, contra este estado de coisas, fazendo notar que nestes casos a classificação pelos genitais revela-se errada.
No entanto, tem-se visto ao longo dos tempos uma apatia em relação a este assunto, havendo mesmo quem se contente com este tipo de avaliação, nomeadamente e como exemplo, quem trata dos casos de Transexualidade no Hospital de Santa Maria.
Neste mesmo hospital, que é onde se fazem todas as cirurgias referentes à nossa transição pelo SNS, ainda há bem pouco tempo com o Dr. Godinho de Matos (cirurgião), qualquer Transexual que fosse fazer uma intervenção e que tivesse necessidade de um internamento temporário, ia parar à enfermaria correspondente ao género para que estava a transitar. Mesmo depois de entrar em funções a nova administração, continuou a funcionar nos mesmos moldes.
Isto implica que a qualquer Transexual depois de terminado o processo (só aí são autorizadas as cirurgias pela Ordem dos Médicos) era-lhe reconhecido o género para que transitava. Implica também que é reconhecida/o pelos médicos especialistas na matéria, e pelo Estado, que essa pessoa pertence ao seu género psico-sexual. Logo, a genitália está errada.
O mês passado uma mulher Transexual dirigiu-se a uma consulta de cirurgia plástica com o Dr. João Décio (que substituiu o Dr. Godinho de Matos) para marcar uma intervenção. Acontece que essa pessoa, devido a problemas vários, necessitava de ficar pelo menos 24 horas internada. Qual não foi o seu espanto quando o médico a informou que teria que ficar internada na enfermaria dos homens. Quando questionado do porquê de tal atitude, foi dito que era uma regra imposta pela nova administração (que já lá estava no tempo do Dr. Godinho).
Este tipo de discriminação (pois trata-se de um tratamento completamente inaceitável para qualquer Transexual) deriva precisamente de se continuar a definir o género de uma pessoa pelos seus genitais de nascença.
Não é de forma nenhuma justificável que uma pessoa na fase final (ou em qualquer fase) do seu processo de transição, quando para o mundo aparece com um género ser obrigada a ir parar a uma enfermaria do género oposto psico-sexualmente. É uma forma de classificação altamente lesiva para a auto-estima de qualquer Transexual, e que pode levar a variadas formas de discriminação.
No caso da Transexualidade, a classificação de género das pessoas terá necessariamente que ser feita pelo seu género psico-sexual, não pelos genitais, nem sequer cromossomaticamente.
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