E no final da Marcha, as Panteras rugiram assim!
A comunidade que queremos não tem vergonha. Vergonha deve ter quem discrimina.
A comunidade que queremos dá a cara por quem ainda não pode dar a cara, mas quem ainda não pode dá-la também lhe pertence. A comunidade que queremos dá a cara colectivamente hoje, para que um dia ninguém tenha de dar a cara para que os direit@s de tod@s sejam respeitad@s.
A comunidade que queremos não se esconde com o argumento de “não precisar de rótulos na testa”: luta para que todos os amores, com rótulos ou sem eles, sejam respeitados, porque é isso que dá cabo dos rótulos em benefício da escolha livre de cada um/a.
A comunidade que queremos é solidária. Não discrimina bichas, trans, mulheres, seropositivos, pobres, feios, gordos, nem quem quer que seja. É diversa, e assim se assume.
A comunidade que queremos não diz mal do associativismo lgbt que existe como pretexto para não se envolver. Envolve-se, ou desenvolve-se, e vem fazer melhor ou vai fazer diferente. A comunidade que queremos está farta do apartheid legal em Portugal, quer mudar as leis e mudar a vida, para que possamos tod@s viver as nossas vidas sem escondermos a parte de nós que é a orientação sexual, identidade de género ou escolhas relacionais, nem ser alvo de estigma por elas.
A comunidade que queremos não adopta para si o pudor e a moral sexual que sempre perseguiram a homossexualidade e todas as sexualidades fora da norma. Já não se defende dizendo que não é promíscua ou justificando a sua normalidade: afirma a diversidade sexual e o direito de cada um/a escolher como quer viver a sua vida sexual, sem pudores e hipocrisias. A comunidade que queremos não segue cartilhas, não tem pensamento único,
A comunidade que queremos é diversa e é de tod@s. Somos o que somos, somos muitas coisas, somos diferentes e divers@s como eles. Temos promíscu@s e casad@s, como entre os heterossexuais. Temos quem ache que promiscuidade é um termo negativo, e quem não ache, como entre eles. Há quem queira casar e quem não queira, mas tod@s queremos é poder escolher, como eles. Temos fei@s e bonit@s, como eles. Nov@s e velh@s, como eles. Mas não jogamos com a moral deles.
A comunidade que temos não é necessariamente monogâmica, porque coloca em causa todos os modelos impostos como única forma de amar: machismo, heterossexualidade - e porque não a monogamia?
A comunidade que queremos não tem medo de se dizer sexual, porque sexual é toda a gente. A comunidade que temos tem dado o seu contributo para que o Portugal do tabú fale de sexo e saia da cauda das estatísticas de gravidez adolescente ou não desejada, das taxas de Doenças Sexualmente Transmissíveis, do desconhecimento e da vivência sexual escondida. Basta de obscurantismo sexual, viva a sexualidade prazeirenta e saudável para cada um/a e para tod@s.
A comunidade que queremos não é só do “gay, normal, masculino e discreto”, é crítica da masculinidade e do poder masculino na sociedade, é anti-machista, é lésbica, é feminista e também é trans e bixa, porque é de tod@s.
A comunidade que queremos tem espaço para @s amig@s, tod@s @s que hetero, homo, bi, vivem fora da norma moral e lutam pelo respeito de todas as formas de amar.
A comunidade que queremos é solidária. É anti-racista, pelos direitos das mulheres e d@s imigrantes, combate todas as discriminações, porque elas se juntam todas contra os direitos. E porque sabe o que é a discriminação.
A comunidade que queremos não diz “eu nunca fui discriminad@”. Abre os olhos e compreende que tudo à nossa volta é ditadura da heterocultura, e tudo o resto foi invizibilizado e denegrido durante demasiados anos. Percebe que há sempre alguém a ser discriminad@, e que tod@s somos enquanto a heterossexualidade for imposta e tida como “única forma natural de amar”, ou pelo menos como mais legítima do que qualquer outra.
A comunidade que queremos não pede tolerância, exige respeito.
A comunidade que queremos organiza-se para combater a lesbigaytransfobia e apoiar os mais fracos de entre nós. Tratar d@s noss@s.
A comunidade que queremos não é transfóbica nem bichofóbica. Defende os direitos das pessoas trans, independentemente da sua orientação sexual, porque sabe que quando estas violam as normas binárias de género, estão a ir apenas um pouco mais longe do que as pessoas homossexuais quando não encaixam no papel de homem e de mulher hetero, o macho e a submissa, que a sociedade deles/as espera. Recusa as normas de género, sabe que há mais do que homens e mulheres. Não recusa ir à marcha porque “só lá estão travecas”, vem fazer com que lá estejamos tod@s, tod@s diferentes.
A comunidade que queremos não mimetiza os modelos amorosos heterossexuais, quer para tod@s e cada um/a a liberdade de escolher como viver à sua maneira.
A comunidade que queremos não luta só pela igualdade. Luta por uma sociedade melhor, começando por abalar a sua moral sexista e heterosexista.
A comunidade que queremos não luta por integrar-se e normalizar-se numa sociedade de moralismo medieval, transforma essa sociedade e as mentalidades, por visões mais abertas da vida, em vez de reproduzir o conservadorismo social e sexual.
A comunidade que queremos, nas suas diferenças e diversidades, é unida e solidária na luta pelos direitos sexuais e contra as discriminações. A comunidade que queremos não deixará crescer mais nenhum/a jovem no contexto exclusivo da heterossexualidade compulsiva.
A comunidade que queremos não quer apenas o fim da discriminação e direitos iguais: traz visões libertárias da vida e da sexualidade, para tod@s, e não apenas para a população lgbt.
A comunidade que queremos é a que fará deste país um país novo em que cabe a comunidade que queremos.
PANTERAS ROSA JUNHO 2008
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