Hoje, mais uma vez, marchou-se aqui. Marchámos pelo direito à não-discriminação, pelo direito à igualdade, pelo direito a ter direitos.
Marchámos pelo fim da imposição de um binarismo de género e de uma sexualidade normativa. Marchámos contra aqueles que chamam doença à diversidade, e que chamam terapia à coerção. Denunciamos a revisão do DSM, que pretende adicionar mais identidades trans* à sua categoria patologizante. Exigimos o fim da classificação da transexualidade e do intersexo como doenças, e o mesmo para as ditas parafilias, sempre que correspondam a expressões consensuais da sexualidade. Defendemos que seja permitido às pessoas trans* e intersexo decidir, por elas próprias, se querem fármacos e cirurgias, e que fármacos e cirurgias. Queremos o direito a poder adequar o nome e o sexo em todos os documentos oficiais sem que seja imposta uma avaliação psicológica ou médica. Reclamamos que a Ordem dos Médicos deixe de colocar-se como obstáculo às adequações de registo civil e às cirurgias genitais, e que as pessoas trans* possam ter apoio no acesso aos fármacos e às cirurgias. O Serviço Nacional de Saúde, actualmente ameaçado pelo desinvestimento, tem de poder garantir estes direitos básicos.
Vimos aqui afirmar o Orgulho Trans* e Intersexo, baseado na riqueza das experiências Trans e Intersexo, e reclamamos a plena liberdade de exercê-las. Reclamamos a história dos nossos corpos, as nossas vivências de divergência, e a originalidade de cada uma de nós. Se estamos fora das normas de género, é aqui que queremos ficar.
Denunciamos também os efeitos devastadores que esta crise, criada pelo neoliberalismo financeiro, tem sobre as minorias. Capitalismo, patriarcado e exploração são faces do mesmo sistema de privilégio e que empurram as minorias, sejam elas étnicas, sexuais, de género ou outras, para serem as primeiras a sentir os efeitos de políticas de austeridade. Somos as primeiras a perder os nossos empregos, ou a nem sequer ter acesso a um emprego. Pagamos esta crise com discriminação no trabalho, no acesso à habitação, na saúde, na justiça. E todos os dias, somos insultadas, humilhadas, batidas e mortas, inclusive dentro da nossa casa.
Por isso as lutas contra o neoliberalismo e as políticas de austeridade são também as nossas lutas e nelas continuaremos a participar; por isso pertencemos a uma enorme maioria em busca de mais justiça e duma vida digna e pacífica.
Aqui mais uma vez afirmamos que a homofobia e a transfobia matam, mas o silêncio também. Por isso não nos calamos. Não ficaremos silenciosas perante desigualdades. Não ficaremos silenciosas perante discriminação. Não ficaremos silenciosas perante injustiças. Não ficaremos silenciosas enquanto não atingirmos o nosso objectivo. E quanto mais nos tentarem calar, mais alto nos vão ouvir!
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