Dia Internacional pela Despatologização Trans - 20 de Outubro - STP2012
STOP PATOLOGIZAÇÃO TRANS - MANIFESTO 2012
No seguimento desta campanha, a França tornou-se o primeiro país no mundo a retirar da sua lista de doenças mentais o transgenderismo, embora no geral se tenha mantido a prática patologizante; foi adiada a publicação do DSM-V para 2013; o 5º Congresso de Sexual Education, Orientation and Therapy of the Multidisciplinary Cuban Society for the Study of Sexuality (SOCUMES), manifestou-se em favor da despatologização do transgenderismo; a proposta actual do DSM-V da APA (American Psychiatric Association) modificou o conceito de “incongruência de género”, persistindo no entanto com um conceito estigmatizador e patologizante do transgenderismo; o Governo espanhol declarou que concorda com a despatologização do transgenderismo, mas ainda não mudou a lei e a Argentina foi o primeiro país do mundo a aprovar uma Lei de Identidade de Género completamente despatologizante mas com garantia de tratamento médico.
No mesmo sentido, instituições políticas internacionais, de governos e de sociedades científicas têm vindo a pronunciar-se em favor da despatologização: Relatório Temático "Direitos Humanos e Identidade de Gênero" do Comissário de Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, a Recomendação CM / Rec (2010) 5 do Comité de Ministros do Conselho da Europa, a Resolução 1728 (2010) da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, publicada em 26 de Julho de 2011, e as declarações sobre Direitos Humanos de Thomas Hammarberg - "leis claras necessárias para proteger as pessoas trans da discriminação e do ódio" – bem como de vários governos, Ministério das Relações Exteriores e da Saúde da França e do Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar sueco. Greffrey Reed, enviado da OMS, declarou no Congresso Nacional de Psiquiatria Espanhol, realizado em Oviedo em Novembro de 2011, existirem planos para excluir as pessoas transexuais da lista de doentes mentais na próxima revisão da classificação de Doenças (CID-11), em 2014.
O Estado não deve ter qualquer jurisdição sobre os nossos nomes, os nossos corpos e as nossas identidades. Fazemos nossas as palavras do movimento feminista na luta pelo direito ao aborto e o direito ao próprio corpo: reivindicamos o nosso direito a decidir livremente se queremos ou não modificar os nossos corpos, sem impedimentos burocráticos, políticos, económicos, ou qualquer tipo de coerção médica.
Em Portugal…
Em Portugal, apesar da aprovação, em Outubro de 2010, de uma Lei que que regula o procedimento de mudança de sexo e nome próprio no registo civil, o processo médico e legal das pessoas transexuais continua longo e penoso, contribuindo para a vulnerabilização das suas vidas.
Mesmo tendo deixado de ser exigido o tratamento hormonal e cirúrgico para a alteração do nome e do sexo nos documentos de identificação, esta continua dependente de um diagnóstico médico patologizante. A Ordem dos Médicos – caso único no mundo – continua a reservar para si, sem qualquer contacto com qualquer utente, a autorização para a realização de procedimentos cirúrgicos. A actual crise económica e o evidente ataque ao SNS e aos direitos de saúde de toda a população portuguesa estão a ter impactos particulares também sobre a comunidade trans, que já antes enfrentava dificuldades acrescidas. O medo de um mau atendimento ou de represálias e/ou a ignorância dos seus direitos como utentes leva a que muitas pessoas atrasem ou nem iniciem os seus processos, entrando em tratamentos hormonais auto geridos, com os inerentes graves riscos para a saúde.
No campo da saúde, exigimos:
- A retirada da “transexualidade” do manual internacional de doenças mentais (DSM–V) e do capítulo de doenças mentais da Classificação Internacional de Doenças (CID-11). O acompanhamento psicoterapêutico deve ser uma opção voluntária. Defendemos o acesso à assistência médica e tratamento hormonal e cirúrgico pelos serviços públicos de saúde às pessoas trans que o procurem;
- Fim das cirurgias à nascença e tratamentos normalizadores a bebés intersexo.
- Fim da esterilização obrigatória de trans masculinos.
- Fim dos actuais ataques ao Serviço Nacional de Saúde, na área da prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis, no racionamento ou corte de tratamentos e medicamentos no âmbito do memorando da Troika e das medidas de austeridade acrescidas.
No campo dos direitos sociais, exigimos:
- Uma verdadeira Lei da Identidade de Género, que não patologize as identidades trans e permita lutar mais eficazmente contra todo o tipo de discriminações de que são alvo no emprego, na habitação, no acesso à saúde;
- A inclusão da “Identidade de Género”, como motivo pelo qual ninguém pode ser discriminado, no artigo 13º da Constituição da República;
- Medidas de educação e protecção contra a Transfobia;
- Garantia de acesso ao mundo laboral e adopção de políticas específicas para acabar com a marginalização e a discriminação das pessoas trans;
Queremos também recordar todas as agressões, assassinatos e suicídios de pessoas trans causados pela transfobia. Não somos vítimas, somos seres activos e com capacidade de decisão sobre a nossa própria identidade. Portugal ainda se lembra do assassinato transfóbico da trans Gisberta, há seis anos, no Porto, às mãos de um grupo de adolescentes, e do assassinato da trans Luna, em Lisboa, dois anos depois.