Porque estávamos a divulgar a Lesboa Party e deixaremos de o fazer
Em 29/11/06, sérgio vitorino svitorino@gmail.com escreveu:
"Boa tarde, admito que fiquei negativamente surpreendido com a resposta da organização da Lesboa Party à nossa proposta. Em primeiro lugar, porque não compreendo que a independência da organização da Lesboa Party pudesse ser colocada em causa através de uma iniciativa por nós assumida e da nossa exclusiva responsabilidade. As Panteras Rosa têm divulgado a Lesboa Party e nem por isso cedemos a nossa independência. Talvez se oferecessemos à Lesboa os referidos materiais, a Lesboa pudesse oferecê-los ao seu público? Ou será que o facto de serem acompanhados por um folheto de prevenção que explica a utilização do kit e que é assinado pelo nosso colectivo também porá em causa a independência da Lesboa?
Admito que a nossa pretensão de recolher assinaturas a propósito do referendo sobre o Aborto possa ser posta em causa, visto que de alguma forma vos levaria a estar a tomar posição sobre o tema. Acharia pena, mas compreenderia, se não o quisessem fazer, visto ser a Lesboa uma iniciativa privada que se pretende, como me dizem, independente política e associativamente. Se for este o motivo da recusa, gostaria de saber, porque realmente o nosso desejo principal é levar a cabo um acto de prevenção relativamente a comportamentos sexuais de risco.
Menos compreensão temos com a recusa de materiais de prevenção, para mais materiais de prevenção para sexo entre mulheres, que além de raros em Portugal são, como vocês reconhecem, de grande utilidade pública para esta comunidade. Parece-nos normal o nosso desejo de os distribuir num evento que, mérito vosso, juntou e juntará tantas mulheres lésbicas num só espaço. Para uma campanha de prevenção dirigida a grupos tão marginalizados em Portugal, como compreenderão, são oportunidades raras.
Aparentemente, tal acção não se "enquadra" nos objectivos da Lesboa Party... Ora bem, eu faço activismo LGBT há alguns anitos. Há 15 anos atrás, quando pretendíamos distribuir materiais de prevenção, por vezes meros folhetos informativos, nos estabelecimentos comerciais do Bairro Alto ou do Príncipe Real que tinham uma frequência LGBT acentuada, era exactamente esta a terminologia utilizada para que os mesmos recusassem a sua distribuição. Tenho que dizer, portanto, que fico muito incomodado com uma resposta que não ouvia - lá está - há 15 anos, e à qual sempre objectei por considerar que é, no mínimo, pouco solidária para com o público a que destinam esses projectos comerciais. Ouvíamos, na altura, argumentos como "termos materiais de prevenção é sugerir que as pessoas têm sexo aqui dentro". Será necessário argumentar o ridículo desta resposta? Espero não ouvir da organização da Lesboa Party argumentos semelhantes.
Só em Portugal é que tenho assistido a este fenómeno de incompreensão por parte de responsáveis de iniciativas comerciais dirigidas ao público LGBT, e mesmo por cá esses obstáculos têm sido ultrapassados nos últimos anos. Ainda bem, porque em nenhum outro país europeu o universo privado tem dificuldade em entender que também lhe cabe uma responsabilidade pública. É que não nos dirigimos a um grupo de amantes de Mozart, mas sim a uma faixa da população que é marginalizada, com as consequências negativas evidentes que isso tem ao nível da prevenção para a saúde. Não tenho nenhum problema com iniciativas comerciais que são apenas isso mesmo, iniciativas comerciais, no vosso caso uma festa com o objectivo único de proporcionar diversão ao público e lucro à organização. Absolutamente legítimo, e até louvável, dada a inexistência de iniciativas regulares destinadas a este público específico. Mas não é preciso ser activista para perceber que quem lucra comercialmente com a exploração do chamado mercado LGBT pode e deve assumir a responsabilidade social de, pelo menos, ser veículo do mais básico do básico que é a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Somos bons e boas para proporcionar lucro, mas não merecemos solidariedade mínima quando estão em causa os nossos direitos... Não está mal, para uma iniciativa que se pretende inovadora, recuperar argumentos e comportamentos do gueto pré-associativismo...
Estamos a falar de distribuir materiais de prevenção e informação que escasseiam e que podem salvar vidas, caramba!
Naturalmente, debateremos entre as Panteras Rosa a forma de distribuir estes materiais, e entre outras oportunidades, é evidente para mim que provavelmente o faremos no exterior da vossa festa, e senão nesta edição, com certeza na próxima. Realmente, a nós não nos faz diferença alguma, e não é por aí que nos chateamos, desde que a prevenção seja feita. Mas naturalmente que faremos uma valoração dos argumentos que nos são apresentados pela Lesboa Party.
E lamento a dureza desta resposta, mas há coisas para que não temos pachorra, como provavelmente vocês não a terão para nos aturar.
Passem bem
Pelas Panteras Rosa
Sérgio Vitorino
Em 29/11/06, Lesboa Party <lesboaparty@entrevirgulas.com> escreveu:
Caro Sérgio,
Obrigada, desde já, pelo e-mail, interesse no evento e apoio na sua divulgação.
Lamentamos a resposta tardia, mas só hoje foi possível responder aos e-mails enviados na última semana para o endereço da Lesboa.
A vossa proposta, que consideramos louvável e de notória utilidade pública, não se enquadra no formato da Lesboa Party. Esta é e quer continuar a ser uma festa LGBT/ hetero-friendly independente de entidades associativas e políticas.
Sem mais assunto de momento,
Um abraço de especial consideração.
A Organização.
http://lesboa.blogspot.com/
-----Mensagem Original-----From: "sérgio vitorino" svitorino@gmail.comDate: Fri, 24 Nov 2006 23:06:09 -0300 To: lesboaparty@entrevirgulas.comSubject: proposta Panteras Rosa - Lesboa
"Olá, boa noite :)
O meu nome é sérgio vitorino, faço parte do movimento Panteras Rosa. Estivemos informalmente na primeira Lesboa Party e ajudámos a divulgar, tal como estamos a fazer com esta segunda edição, porque olhamos o vosso evento com grande simpatia. Já faltava algo assim na noite de Lisboa.
Escrevo-vos (...) com a proposta que se segue:
temos uma quantidade bastante razoável de materiais de prevenção para sexo seguro, nomeadamente um kit que nós próprios desenvolvemos para distribuição às lésbicas (coisa rara), e que consiste entre outras coisas num par de luvas de latex e um folheto informativo sobre sexo lésbico mais seguro, que podem consultar na nossa página em http://www.panterasrosa.com/html/sexolesbicoseguro.html
A nossa ideia seria termos uma mesita à entrada da Lesboa na qual pudéssemos fazer distribuição gratuita destes materiais e desta informação. Simultaneamente, temos folhas de assinaturas para a legalização dos movimentos pelo Sim, estando em perspectiva um referendo sobre a questão do aborto, em cuja campanha também estamos empenhad@s como colectivo.
Fica a proposta, digam-nos se vos parece bem...
Gostaríamos muito de poder fazê-lo, até era mais uma forma de manifestar o nosso apoio colectivo à existência da Lesboa P.
Fiquem bem e digam coisas
saudações felinas
pelas Panteras Rosa
Sérgio Vitorino"